Diz a lenda que uma entidade mística chamada Sumé guiou os indios para dentro do Brasil e deixou sua sabedoria impressa em trilhas e pedras. A mais famosa dessas trilhas é Paêbirú, ou Caminho da Montanha do Sol e é situada na Paraíba, perto da Pedra do Ingá, monumento místico supostamente erguido pela entidade indígena.
Os jovens músicos Lula Côrtes e Zé Ramalho conheceram a história e se encantaram por ela. Passaram dias nas redondezas da pedra e buscaram inspiração para o que viria a ser o melhor disco já produzido em terras brasileiras. Ainda eram iniciantes no ramo da música e não tinham reconhecimento nenhum de público, mas tinham seus contatos. Se uniram a Alceu Valença, Paulo Rafael, Zé da Flauta e muitos outros para se trancar durante outros muitos dias no estúdio e extrair o Nirvana recém-obtido de suas mentes e materializá-lo em forma de LP duplo. O resultado não poderia ser mais maravilhoso. Os quatro lados desta obra prima, cada um com o nome de um elemento da natureza são, com certeza absoluta, precisosos e insuperáveis.
Terra abre o disco com uma mistura impressionante de instrumentações na suíte "Trilha de Sumé/Culto à Terra/Balaiado das Musicarias". É relativamente longa. Possui 13 minutos e é recheada de efeitos, sopros, cordas pesadas e percussão exótica. O lado Ar assume um caráter mais suave. Os instrumentos de sopro predominam aqui e ao fundo é possível ouvir conversas, ruídos e gargalhadas, como demonstra o instrumental "Harpa dos Ares". "Não Existe Molhado Igual ao Pranto" e "Omm" são faixas praticamente transcedentais, com vocais muitíssimo bem arranjados.
Fogo, como é de se esperar, mostra o lado rockeiro da dupla. Guitarras, órgãos, baixos pesados e percussão ágil estão em evidência. "Raga dos Raios", um instrumental de 2 minutos e meio, foi considerada pela crítica a melhor peça de guitarra fuzz já feita no país, enquanto "Nas Paredes da Pedra Encantada, Os Segredos Talhados Por Sumé" abraça o progressivo influencidado pela psicodelia americana e pelo King Crimson durante 7 excitantes minutos. Fechando essa face, "Máscaras de Fogo", uma espécie de ritual denso com linhas de baixo absurdamente pesadas. O lado Água é mais sereno. No fundo das músicas, pode-se ouvir o som de água corrente misturada a gêneros musicais típicos do nordeste. "Louvação à Iemanjá" não precisa de descrição, seu título a define. "Beira Mar" e "Sumé" são dois instrumentais com destaque para a viola caipira, realmente muito belos. "Pedra Templo Animal", por sua vez, é uma faixa vocal tanto quanto emocionante.
Infelizmente, esse disco é raro e caro. Uma noite após a gravação, uma enchente destuiu as fitas master do álbum, de modo que só sobrassem 300 cópias, estas que estavam nas mãos da esposa de Lula Côrtes. Hoje em dia, o vinil é avaliado em R$ 5000,00, sendo, deste modo, o disco mais caro da música popular brasileira (desbancando aquele primeiro do Rei Roberto, "Louco Por Você"). Uma pena, porque é cultura jogada, literalmente, rio abaixo. De qualquer modo, é a melhor coisa que você, leitor, pode ouvir nos dias de hoje.
E viva a psicodelia! Viva o Brasil! Viva o Saqueando!
E feliz ano novo para todos!l
Faixas:
1. Trilha de Sumé/Culto à Terra/Balaiado das Musicarias
2. Harpa dos Ares
3. Não Existe Molhado Igual Ao Pranto
4. Omm
5. Raga Dos Raios
6. Nas Paredes da Pedra Encantada, Os Segredos Talhados Por Sumé
7. Máscaras de Fogo
8. Louvação à Iemanjá
9. Beira Mar
10. Pedra Templo Animal
11. Trilha de Sumé
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terça-feira, 29 de dezembro de 2009
domingo, 16 de agosto de 2009
Zé da Flauta & Paulo Rafael - Caruá (1980)
Ex-flautista e pifarista do Quinteto Violado, Zé da Flauta se destaca dos outros músicos nordestinos não só por sua seriedade, mas por sua técnica incomparável. Paulo Rafael é, junto com o artista supracitado, um dos principais responsáveis pela qualidade musical das obras do aclamado Alceu Valença. Qual seria o resultado da união dessas duas personalidades musicais? Certamente, música para nossos ouvidos! Ok, agora pense que, além desses dois, participam do disco o gênio Lula Côrtes (criador das pérolas psicodélicas Paêbirú e Satwa), Lenine e ainda Luciano Pimentel (baterista do já citado Quinteto Violado). É, meu caro leitor, é isso mesmo que você está pensando. Música de excelente qualidade.
Essencialmente instrumental (com uma exceção, a buliçosa "Zé Piaba", uma das primeiras obras vocais de Lenine), o disco investe na tradicionalidade da musica nordestina mesclada com o acid-rock e o progressivo europeus (não há como não perceber, por exemplo, as influências de Robert Fripp nas guitarras de Rafael). Não há como não se animar com músicas como "Sai uma Mista", ou até mesmo relaxar ouvindo "Tema da Batalha".
Pérola, assim como a maioria das obras do Udigrudi nordestino, Caruá é um disco único, que vale a pena ser ouvido e divulgado. Afinal de contas, música séria tem que ser encarada com seriedade!
Faixas:
1. Sai uma Mista
2. Rebimbela da Parafuseta
3. Baião da Barca
4. Ponto de Partida
5. Tema da Batalha
6. Fora de Órbia
7. Entardecer
8. Zé Piaba
9. Gôta Serena
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Essencialmente instrumental (com uma exceção, a buliçosa "Zé Piaba", uma das primeiras obras vocais de Lenine), o disco investe na tradicionalidade da musica nordestina mesclada com o acid-rock e o progressivo europeus (não há como não perceber, por exemplo, as influências de Robert Fripp nas guitarras de Rafael). Não há como não se animar com músicas como "Sai uma Mista", ou até mesmo relaxar ouvindo "Tema da Batalha".
Pérola, assim como a maioria das obras do Udigrudi nordestino, Caruá é um disco único, que vale a pena ser ouvido e divulgado. Afinal de contas, música séria tem que ser encarada com seriedade!
Faixas:
1. Sai uma Mista
2. Rebimbela da Parafuseta
3. Baião da Barca
4. Ponto de Partida
5. Tema da Batalha
6. Fora de Órbia
7. Entardecer
8. Zé Piaba
9. Gôta Serena
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