domingo, 23 de dezembro de 2012

T.S. Bonniwell - Close (1969)

No dia 25/12/2011, manhã de Natal, deparei-me com uma notícia que acabou deixando amargo o dia que normalmente é dedicado à confraternização, à comemoração e, acima de tudo, à degustação de presunto, peru, arroz de champagne...

Thomas Harvey "Sean" Bonniwell, meu ídolo e grande nome do rock de garagem, havia morrido.

A primeira coisa que me veio à cabeça foi fazer-lhe uma homenagem... Mas as palavras não fluíam. Não que, um ano depois, eu sinta que consiga escrever algo à altura de sua qualidade como letrista e compositor, mas tentarei fazer o possível.
Diferentemente do que consta nos anais da história e na sabedoria do populacho, Bonniwell começou a sua carreira musical num quarteto vocal de pop-folk chamado The Wayfarers. O único registro de suas canções está num álbum raríssimo gravado ao vivo na Feira Mundial de 64 (At The World's Fair), tão raro este que nem mesmo a velha e boa internet foi capaz de nos fornecer todo o material até o instante (mas eu prometo que eu posto ele aqui pra vocês assim que eu conseguir tê-lo completo em mãos). O conjunto acabou não durando muito e Bonniwell, à época, jovem, ansioso e inquieto, entrou de corpo e alma no mundo do rock com os Ragamuffins - que, com o tempo, crescimento musical de seus integrantes e saída de uns e chegada de outros, se tornou o Music Machine, onde Sean cravou seu nome no rock de garagem psicodélico. A banda tinha uma atitude agressiva - para muitos estudiosos de música, eles anteciparam em uma década o punk - e um visual inconfundível: todos os membros usavam cabelo esfregão, roupas pretas e uma luva de couro na mão direita. A partir daqui a história vocês já conhecem. Depois de atingir sucesso relativo com Talk Talk, Trouble e Cherry Cherry, o grupo chamou a atenção da Warner, assinou contrato novo e, para dar mais destaque ao seu líder e principal compositor, mudou de nome para The Bonniwell Music Machine. Aí, nos idos de 1967, o grupo atingiu seu ápice musical com Beyond The Garage, que continha pérolas como The Trap, Double Yellow Line, To The Light e Astrologically Incompatible.

Sean e seu estiloso conjunto de bigode e cavanhaque.

Mas nem tudo são flores, não é mesmo?

A banda estava trabalhando em mais um disco - a ser lançado em 1968 com o nome Ignition. O material acabou sendo remasterizado e lançado pela Sundazed em 2000-, mas Sean seguia descontente. Os desentendimentos do grupo acabaram por dissolvê-lo. Mas isso não abalara Bonniwell: em 1969, o músico ressurge no cenário musical com Close, seu primeiro álbum solo, lançado pela Capitol Records. O disco é um marco na sua vida por alguns motivos específicos: aqui, Sean abre mão de sua impetuosidade de jovem revoltado, reencontra seu passado folk, cantando músicas gentis e leves e também muda um pouco de postura ao assumir seu nome de batismo, Thomas, ao assinar o disco como T.S. Bonniwell. Mas mais importante que tudo isso é o fato do disco ter sido praticamente ignorado pelo mercado (e pela gravadora), fato que causou enorme desgosto em Sean. Desgosto esse tamanho a ponto de fazê-lo vender todas as suas coisas, crescer uma barba e sair numa viagem de "retiro espiritual" pelos Estados Unidos da América, no melhor estilo beatnik. Durante esse tempo nas estradas, o cantor e guitarrista acabou se convertendo - com certa ênfase, diga-se de passagem - ao Cristianismo, escreveu uma autobiografia contando sua vida de garageiro e, nos anos 80, foi convencido pelos Fuzztones a tirar o pó da guitarra e gravar uma nova versão - sensacional, diga-se de passagem - de The People In Me. Em 2004, reuniu o Music Machine e saiu em tour pela Europa. Inclusive, temos o bootleg aqui no Saqueando. Você pode achá-lo neste link aqui. Pera, não tem link? Rapaz, vou lhe falar: essa censura à divulgação de música na internet está se tornando cada vez pior. Vamos refazer o upload dessa pérola assim que possível.

Quanto ao Close, serei bem sincero: não dá pra dizer, nem de longe, que contenha qualquer uma das melhores composições de Bonniwell. Dentre as 11 faixas do disco, destacam-se o lamento Where Am I To Go (um prenúncio à necessidade de Bonniwell se reencontrar com sua espiritualidade?), Black Snow (que chegou a ser gravada numa versão mais "pesada" pelo Music Machine e foi lançada no Ignition), o country à lá honky-tonk Where It Belongs e a despedida - momentânea - que fecha o disco, a inquieta Sleep.

Bonniwell foi, sem dúvidas, uma perda terrível para a música underground. Poucos sabem, mas Sean deixou um legado riquíssimo e que com certeza inspirou grandes nomes. Talvez nada mais digno para este grande homem do que morrer no dia da maior comemoração de sua religião. Foste um excelente músico, Bonniwell, sentiremos sua falta!

Com quase um ano de atraso - mil desculpas! -, mas com toda a admiração deste humilde blogueiro.

Descanse em paz e, como naquele e-mail que você muito atenciosamente me respondeu há alguns anos, may the Lord bless you with peace and prosperity.

"Rock and roll was a teenager in the '60s, and I used that climate to express my confusion, my anger, at the injustice of the world."
-Sean Bonniwell - 1940~2011   



1 Where Am I To Go 
2 Love is Such a Simple Word
3 Who Remembers 
4 Something to Me 
5 Black Snow 
6 She is 
7 Temporary Knife 
8 Continue 
9 Where It Belongs
10 But Not With My Heart
11 Sleep


Torrent em altíssima qualidade (agora nós estamos modernos, hehehe. Mentira: não consegui outro link pra esse disco, em especial) nos comentários, meu povo!

Um comentário:

Bonniwell de Magalhães disse...

http://thepiratebay.se/torrent/7149728/T.S._Bonniwell...Close%281969%29%5BFLAC%5D