sábado, 2 de fevereiro de 2013
The Fellowship - In Elven Lands (2006)
Filólogo, escritor e professor, J.R.R. Tolkien se consagrou em meios literários com duas obras: O Hobbit e o Senhor dos Anéis. O primeiro, livro infantil, conta a saga do então jovem hobbit (povo de baixa estatura - não ultrapassam a altura de crianças quando adultos - e de pés grandes e peludos) Bilbo Bolseiro em busca de um tesouro de um reino de anões que há muito tempo vem sido guardado pelo terrível dragão Smaug. O segundo, um pouco mais denso e complexo, voltado para um público adulto, conta a épica história do sobrinho de Bilbo, Frodo Bolseiro, enquanto ele tenta destruir um anel mágico pertencente ao Senhor do Escuro, que ameaça a tudo e a todos com a sombra de uma terrível guerra.
Talvez não seja necessário explicar muito mais a respeito desses dois livros em especial, mas nunca é demais dizer que o universo de fantasia medievalesca criada pelo britânico oriundo da África do Sul é de um valor mitolígico indubitável. Afinal de contas, Tolkien sempre se preocupou com a coerência e a complexidade das tramas que criava: a Terra-Média e Valinor, dois principais palcos de suas narrativas, possuem um panteão rico e detalhado de divindades, localizações geográficas precisas (além de escrever, o autor desenhava seus próprios mapas) e línguas próprias e características de cada povo que lá habita. Tolkien, por ser um grande estudioso de idiomas, criou estruturas gramaticais, sintaxes e formulou dialetos completos. O quenya, falado pelos altos-elfos, é derivado do finlandês. O sindarin, mais comumente falado pelos elfos, sejam eles altos, cinzentos ou da floresta, é baseado no galês. Já o rorric, idioma dos homens da Terra dos Cavaleiros, tem um quê de inglês arcaico. A fala negra, falada pelas maléficas criaturas de Mordor, era uma mistura de russo com o antigo idioma hurrita. Todas as línguas citadas foram moldadas de forma que sua fonética condizesse com o perfil dos personagens criados por Tolkien, sendo que as duas primeiras sempre se empostaram de maneira mais nobre, leve e melodiosa.
51 anos depois do lançamento do último Senhor dos Anéis, um grupo de músicos liderados pelos neozelandeses Caitlin Elizabeth e Adam Pike, em cooperação com o vocalista do Yes, Jon Anderson, lança um trabalho de sete anos de pesquisas e de composições minuciosas em cima do universo mitológico de Tolkien. In Elven Lands, concluído em 2006, tinha como objetivo constituir o que mais se aproximaria da sonoridade dos povos perdidos do vasto mundo de Arda. Para atingir tal fim, os músicos fizeram questão de aprender quenya e sindarin e - acima de tudo - estudar com afinco os mínimos detalhes das histórias do autor inglês para trazer, para o mundo dos homens, a música dos elfos. Além disso, todos os instrumentos utilizados na gravação do disco buscam se aproximar do que poderia ser utilizado na Terra-Média: o acervo flutua entre hurdy-gurdys, flautas de madeira, pandeiros, bombardas, alaúdes...
Pode-se dizer que o resultado é pra lá de satisfatório: o repertório do álbum é muito agradável acústicamente e não deve em absolutamente nada a qualquer outra tentativa de ilustrar musicalmente a obra de J.R.R. Tolkien. O ouvinte não terá dificuldades em, numa experiência sinestésica, viajar dos Portos Cinzentos até o Valle, dar uma banda pelas Florestas Sombrias, tomar uma ale espumante nas estalagens do Condado, passar pelas minas dos anões em Moria e muito mais! Dentre as várias peças nas duas variantes do élfico e em inglês, seria interessante prestar bastante atenção na animada Dan Barliman's Jig (uma energética balada non-sense à moda dos hobbits), nos vários versos dedicados a valar (divindades do universo tolkeniano) como Elbereth Giltoniel ou ao grande caçador Oromë, na bela The Man on The Moon (quem leu os livros reconhecerá a história contada aos hobbits por Tom Bombadil) ou mesmo na serena Silver Bowl (belo hino em homenagem ao espelho d'água da dama Galadriel de Lothlórien).
E como falar deste belo álbum sem citar a tensa Beware The Wolf, a esplêndida versão do clássico do Led Zeppelin Battle of Evermore (que, pasmem, também foi inspirado nos livros de Tolkien) e o lamento dos anões, When Dúrin Woke? Isso para não comentar, também, a beleza dos cânticos de Elechöi (aqui o velho Jon Anderson solta a voz numa linda composição) e a brilhante Eala Earendel, belíssima homenagem ao brilho das estrelas?
Certamente, não dá mesmo para fechar esse texto sem falar de Creation Hymn, estupenda redenção do Ainundalë do Silmarillion, conto de Tolkien que explica que a criação do universo se deu não pelo big bang, mas sim por uma bela música orquestrada por Eru ou Ilúvatar, a divindade de maior importância nessa mitologia toda. Se o próprio autor acreditava que a vida era fruto de uma grande canção, quem somos nós para discordarmos disso? O disco é, no geral, excelente. Talvez um tanto quanto calmo demais, mas, sem dúvida, um conjunto de músicas de beleza incomensurável e que irão agradar facilmente a todo fã de folk e de música antiga.
Faixas:
1. Tír Im
2. Dan Barliman's Jig
3. The Silver Bowl
4. The Man on The Moon
5. A Verse To Elbereth Gilthóniel
6. Elechöi
7. Beware The Wolf
8. Oromë: Lord of The Hunt
9. Creation Hymn
10. When Dúrin Woke
11. Eala Earendel
12. The Sacred Stones
13. The Battle of Evermore
14. The Blood of Kings
15. Verses To Elbereth Gilthóniel
16. Evening Star
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4 comentários:
Flac:
http://thepiratebay.se/torrent/5559890/The_Fellowship_%28Jon_Anderson%29_-_In_Elven_Lands_%282006%29_%5BFLAC%5D
MP3 320 kbps:
http://www.4shared.com/rar/Jg7jk6iX/In_Elven_Lands.html
G-e-n-i-a-l!-!-!
Caríssimos, muitíssimo obrigado pelo post.
Foi difícil encontrar-te. Acredita que o reconheci pelo Português? E depois pude ter certeza pela foto.
Cuida-te. Let the good times roll.
Guess who?
:*
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