quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Beefeaters - Beefeaters (1967)


Dinamarca, 1967.

Qual a chance de aparecer uma banda antenada com o que acontece fora de seu país, que está teoricamente longe da efervescência da época, mandar bem e ser precursora em certos aspectos musicais? Tá, se tomarmos como exemplo o álbum que temos aqui a chance é até que grande, e ainda sai bom pra caralho.

O protótipo dos Beefeaters foi formado em Copenhagen no comecinho de 1964, mas a formação final se fez com a entrada do guitarra e vocal Peter Thorup, em 1966: época do freakbeat(garage europeu), do garage e da psicodelia (sim senhor, o ano do Psychedelic Sounds, do 13th, entre tantos outros). Em 1967, os Beefeaters tocaram como banda de apoio pra Pink Floyd e Jimi Hendrix nas suas turnês pelos países nórdicos, o que mostra o calibre dos dinamarqueses.

Em relação a essa sonzeira, é uma levada meio garage, mas bem inovadora em alguns aspectos: várias músicas tem uma levada meio soul/funk, com um orgão/piano tocado pelo ser chamado Morten Kjærumgård (SUPREMO), que complementa perfeitamente a voz fudida de Thorup, também um guitarrista de mão cheia. Amostras dessa união são "I Want You", além de em "Papa's Got A Brand New Bag", sem contar o resto do álbum.

Também tem uma levada psicodélica bem da época, em "Night's Flight" ee "Let Me Down Easy", que me parece um Doors soulzado, fortíssimo. Há a presença também de blues, como dá pra ver em "My Babe" e "Summer Scene", sem deixar o beat dos anos 60 de lado, claro: "It Ain't Necessarily So" e "Crossroads" marcam seu território. E o baixista e o baterista ( respectivamente Fleming "Kieth" Volkersen e Erling "Mozart" Madsen) seguram bem a cozinha, mantendo o som forte e bem organizado.

Concluindo, é um excelente álbum dessa banda nórdica que conseguiu mesclar elementos bem variados, criando uma música muito boa, muito concisa e madura pra época e local em que foi feita, e mesmo hoje em dia se sobressai. Com certeza merece mais atenção do que foi dada até hoje.

Ouçam agora, que vale - e muito - a pena!


Faixas:
01 - It Ain't Necessarily So
02 - Crossroads
03 - My Babe
04 - I Want You
05 - Hey Little Girl
06 - Papa's Got a Brand New Bag
07 - Let Me Down Easy
08 - Shakin' Fingerpop
09 - Night Flight
10 - Summer Scene


e está lá, como sempre.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Pharoah Sanders - Africa (1985)

Em quase a totalidade do século XX, havia vários saxofonistas que rondavam os Estados Unidos de costa a costa fazendo um som e ganhando a vida. Sanders era apenas mais um desses. Tocou em diversas bandas já jovem e viajado, e fez parte de uma das enormes bandas de Sun Ra, que lhe cunhou o título/apelido de Pharoah. Como já sabemos, Sun Ra era todo metido em egiptologia, sabe-se lá de onde veio essa alcunha.
Nos anos 60, a fama de Pharoah foi consagrada. Colhendo os frutos de seu reconhecimento com Sun Ra, gravou, em 64, seu primeiro álbum como líder do grupo. O disco se chamou, com efeito, “Pharoah’s First”, e acarretou num convite deveras importante para Sanders: um convite de John Coltrane.
Coltrane, naquela época, estava gostando muito da sonzeira mais libertária de ícones como Ornette Coleman, e decidiu ramificar seu trabalho para essa área. Formou uma infantaria de dois trompetes, dois sax-alto e três sax-tenor. Sanders entrou nessa terceira categoria, e lá começou, definitivamente, seu momento no Jazz. O disco se chamou Ascension, e é marco da história da música, com muitos solos e liberdade com licença.
Daí em diante, Pharoah fez a festa. Consagrou-se no estilo que atualmente é chamado de Cutting-edge Jazz, uma forma mais ácida do jazz que seria como um fusion-tradicional-contemporâneo. Não se preocupe, explicarei-me.
O fusion fica na liberdade, na dinâmica nova dos timbres e efeitos, no caso do sax o preferido de Pharoah é o over-blowing, técnica que consiste em estourar mesmo o som do instrumento, soprando pesado.
O tradicional está, principalmente, nas formações usadas e, em certos momentos, na execução de temas. Há, é claro, momentos que essa tradição foi deixada de lado.
A contemporaneidade está no som. No som anárquico de Sanders, no timbre, na técnica, na primazia. Cabe dizer que o referido som é único, mesmo apresentando influencias claras de Coltrane e Sun Ra, além de Freddie Hubbart.
Em 85, Pharoah lançou o álbum “Africa”, no qual é além de intérprete, fazedor de grandes temas. Tocou, nesse álbum, músicas como “Naima” ou “Speak Low”, mas com um arranjo que é bem só.
A música que dá nome ao disco é bem interessante, é um som um tanto étnico que não parece ter muita etnia, raça ou cor. Os gritos de do coro são, sem duvida, palavras de ordem da música, ou de desordem da música. Há influências de ritmos popularizados na América central, como a salsa além, é claro do bom batuque africano, que acoberta e é bom de escutar.
Minha faixa favorita é “You’ve Got to Have Freedom”. Nela percebemos a versatilidade do som de Sanders, que caminha do estridente ao aveludado em um mesmo compasso. O over-blowing é bem perceptível nessa faixa também.
Alias, se alguém souber o que está escrito na capa, depois me conte, por favor.
Escute Pharoah. Escute-o.

Faixas:
01. You've Got To Have Freedom
02. Naima
03. Origin
04. Speak Low
05. After The Morning
06. Africa
07. Heart To Heart
08. Duo

link pra downloadar tá nos comentários.