domingo, 29 de dezembro de 2013

Beltaine - Rockhill (2004)





Festa pagã comemorada pelas antigas tribos celtas da Europa, o Beltane (do celta belo-te(p)niâ, ou "fogo brilhante") celebrava a chegada da primavera e a fertilidade da terra. Nela, os "foliões" dançavam, cantavam e se fartavam de alimentos em volta de uma grande fogueira que, tal qual acreditavam, emanava uma energia mística que faria um enorme bem aos homens (e às colheitas e rebanhos) que as absorvessem. Atualmente, ainda existem festividades na ocasião - que, no hemisfério norte é celebrada no dia 30 de abril e no sul, dia 31 de outubro - graças ao resgate destas antigas tradições por grupos neopagãos como os Wiccanos, muito embora nas comemorações contemporâneas prime a sensualidade humana em detrimento da fertilidade do solo.
A Polônia, muito embora não seja reconhecida como um dos países que mais sofreram a influência dos povos celtas, abrigou muitas dessas tribos na antiguidade e, assim como na França, na Irlanda e na Inglaterra, ainda existe vivo um certo carinho pelas tradições do passado. Um dos mais famosos expoentes musicais dessa cultura no país, o grupo Beltaine tem como base sonora tanto influências do folclore bretão-francês quanto do irlandês. O que diferencia a banda de outras várias tentativas de resgate contemporâneo da música celta é justamente a densidade com que cada uma das peças é executada e o álbum Rockhill, de 2004, é a prova disso. Cada interpretação de músicas tradicionais (além da inclusão de canções próprias) presentes no disco é surpreendentemente original dentro do possível - afinal de contas, algumas músicas possuem mais de 600 anos, é sempre bom lembrar - e a fluidez com a qual os músicos conseguem transitar entre ritmos é impressionante. De um raga (sim, temos algumas incursões orientais aqui também) para um an dro, de um an dro para um jig, cada pausa ou acelerada é de deixar o ouvinte perplexo.
A obra abre com o nome da banda como primeira faixa... E não à toa, é possível sentir a chama crepitante dentre as suaves flautas de Beltaine. A tradicional e brilhante Burning Piper's Hut vem logo em seguida e, além de dar uma chacoalhada intensa no ouvinte, causa pequenos espasmos de prazer a cada breque do bouzouki irlandês... E não demora para uma cítara delirar por aproximados dois minutos até a poderosa An Astrailhad (música tradicional francesa cujo nome, em bretão, significa "o brincalhão) que, apesar do título, é papo sério, enquanto músicas como a faixa-título Rockhill e The Sweetest Joy são afagos líricos muito sossegantes. Całuski Pastora é um aperitivo para o lado polonês do grupo e cumpre o que o nome - em polaco claro, "beijos da pastora" - sugere muito bem. 
A releitura da clássica The Foggy Dew, com vocais masculinos gravíssimos e incursões de pennywhistle de tirar o fôlego também merece especial atenção. Temos ainda faixas como Dance Around, Mary B. e The Sea of the Irish Dreams, que embora não se destaquem sobre as outras, são assaz agradáveis. E não dá para acabar de falar desse disco sem dar especial atenção a 4 Reele, que é uma coletânea de quatro animadas canções de baile celtas... Dignas de se subir em cima da mesa e sapatear para tudo que é canto. A faixa final, Sunrise, é um alentador fim-de-festa depois de uma agitada noite céltica.
No geral, Rockhill é um disco excelente e muito vivo. Para ser ouvido no trabalho, recebendo visitas, fazendo banquetes ou dançando em volta da fogueira.

Faixas:

01 - Beltaine

02 - Burning Pipers Hut

03 - Intro 

04 - An Astrailhad

05 - Rockhill

06 - The Sweetest Joy

07 - Całuski Pastora

08 - Dance Around

09 - Foggy Dew.mp3

10 - The Sea of the Irish Dream

11 - 4 reele

12 - Mary B

13 - Sunrise



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