segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Língua de Trapo - Como É Bom Ser Punk (1985)

"Atenção, isto é uma gravação", avisa uma narração no começo do disco "Como é Bom Ser Punk", do Língua de Trapo. O alerta, além de esclarecer o detalhe óbvio pro ouvinte que ainda não tinha se tocado, já revela o tom bem-humorado das músicas que virão a seguir.
A primeira faixa, "Fraude", soa como uma música fraca pra dançar dos anos 80, porém com uma letra crítica ("Não quero saber de cabelos/Estou mais preocupado é com a minha cabeça")... Até um pouco autocrítica, na verdade ("Eu sou um imbecil/Um cretino, um mentacapito/Ah eu sou um idiota"). Ou talvez não seja crítica coisa nenhuma, seja tudo puro deboche, uma grande fraude mesmo.
É uma dúvida que sempre fica ao se ouvir Língua de Trapo. O conjunto, formado no começo dos anos 80, figura, ao lado de grupos como o Premeditando o Breque e o Isca de Polícia, como um dos mais importantes do movimento da Vanguarda Paulista, que embalou a juventude paulistana no periodo pós-ditadura. Seguia uma linha parecida com aquela que o Joelho de Porco inaugurara alguns anos antes, encontrando motivo pra tirar sarro em tudo, transitando entre vários estilos de música, mas sem nunca perder a gozação e a crítica.
Esse estilo gozador pode ser percebido na segunda faixa, "Donos do Mundo", uma música circense infantilóide que poderia muito bem ser o tema de abertura do programa da Xuxa, se não fosse pela letra ("Balão é o cacete/Nós queremos é dinheiro"). Em seguida, vem "Deusdéti", canção que, com um quê de sertanejo, é o canto de um militante de esquerda frustrado em seu dilema de escolher entre o partido bolchevique e a namorada burguesa. "Country os Brancos", numa pegada de trilha de filme de faroeste, conta a história do caubói que, ao invés de ir matar índios no Arizona, anda armado à serviço da Funai.
O "Samba Enredo da TRP" zomba abertamente da organização ultra-reacionária TFP (Tradição, Família e Propriedade). "E hoje, sou fascista na avenida/Minha história mais querida/Dos reaça nacional", diz a letra, em meio a 'anauês' e elogios à Santa Inquisição, ao Nazi-Fascismo, à Monarquia e à Ditadura Militar.
A melancólica faixa-título "Como é Bom Ser Punk" tira sarro do espírito de porco sujo do movimento punk, descrevendo a emoção que é a de sentir-se um maloqueiro. Em seguida, a clássica "Os Metaleiros Também Amam", que o Iron Maiden só não fez um cover ainda porque o vocalista não fala português, conta a trágica história do metaleiro que se apaixonou por uma gótica no show do AC/DC, lá no Rock in Rio ("Eu quero mais é que ela vá pra Marrakesh/E que por aqui não mais retorne/Pra eu curtir em paz meu Ozzy Osbourne").
"Força do Pensamento" é hilária, "Coquetel Beneficiente" ri da "high-society" e "Um Brasileiro Em Paris" você só vai entender se falar francês. "A Vingança do Hipocondríaco" é um divertidíssimo samba à lá Moreira da Silva com nomes de doenças e "Conspurcália" fala da nojeira que é a comida que consumimos ("Corantes acidulante, gases aromatizantes/Mamãe prepara a merenda com muito carinho/E assim ela encomenda a gastrite do filhinho"). O disco termina lá embaixo com "Amor À Vista", de todas, a faixa mais fraca, sobre a opção de se prostituir pra conseguir sobreviver nesses tempos de crise...
Enfim, mas de modo geral o disco é muito bom, além de muito engraçado (talvez valha até mais como obra de humor do que como obra musical). Recomendadíssimo pelos saqueadores de cidade. De qualquer forma, não deixo de avisar: é tudo só uma gravação.

Faixas:
1. Fraude
2. Donos Do Mundo
3. Deusdéti
4. Country Os Brancos
5. Samba Enredo Da T.R.P.
6. Como É Bom Ser Punk
7. Os Metaleiros também Amam
8. Força Do Pensamento
9. Coquetel Beneficente
10. Um Brasileiro Em Paris
11. A Vingança Do Hipocondríaco
12. Conspurcália
13. Amor À Vista

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Moreira, Bezerra & Dicró - Os 3 Malandros In Concert (1995)

Moreira da Silva, Bezerra da Silva e Dicró. Três malandros, todos eles "sangue bom da música popular". O primeiro é o mestre do samba de breque. O segundo é praticamente o criador do partido alto. O terceiro defende as raízes do pagode. Muitíssimo bem humorados, resolvem se reunir e fazer um espetáculo para satirizar os Três Tenores, Luciano Pavarotti, Plácido Domingo e José Carreras. O resultado não poderia ser melhor. O trio da malandragem abre o show no municipal quebrando cristais com suas vozes agudas, representando boleros e, ainda tirando um sarro impiedoso dos seus "rivais" europeus. Nas palavras do trio, "estou desafiando na minha área só quem pode, quero ver Pavarotti, Domingo e Carreras cantando um pagode!". Tudo isso com breques acompanhados de música clássica! Os sujeitos realmente são uns fanfarrões!

Como ninguém é de ferro, o sarro tem um limite. Após quatro músicas satirizando os tenores, o núcleo da malandragem resolve recitar alguns de seus maiores sucessos (destaque para Morengueira com 93 anos representando sua bem-humorada "Na Subida do Morro", com direito à famosa morte slow-motion do vargulino que bate na sua nega), infelizmente não em trios, mas individualmente ou em duplas. Ainda assim, o bom-humor continua ao longo do disco, especialmente nos diálogos entre os malandros, que exalam o temperamento quente dos latinos.
O espetáculo vale a pena para os apreciadores dum bom samba e de uma bela sátira. Infelizmente, o disco não fez tanto sucesso quanto seu rival "3 Tenors In Concert", mas é uma pérola a ser apreciada.
Pessoalmente, prefiro os três malandros, ouié!



Faixas:
1. O Recital
2. Os Três Pagodeiros Do Rio
3. Ópera Do Morro
4. 3 Malandros In Concert
5. Ressuscita Ele
6. Chave De Cadeia
7. Malandro Não Vacila
8. O Político
9. Na Subida Do Morro
10. Dava Dois
11. Lugar Macabro
12. Jogando Com O Capeta
13. Rua Da Amargura

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