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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Jards Macalé - Jards Macalé Canta Moreira da Silva (2001)

Diz Moacyr Luz que, certo dia, ele e Jards Macalé esperavam por uma ponte aérea numa tarde chuvosa e entediante no Rio de Janeiro. Não havia muito o que fazer naquele monótono aeroporto, então Moacyr pediu a Jards, que usava um panamá que havia pertencido ao próprio Moreira da Silva, cantasse um samba de breque na sala de espera. Macalé se animou e, num salto, entoou "Rei do Gatilho", hit inconfundível do grande mestre. No exato momento em que o saguão do aeroporto ouve o clássico "CUIDADO, MOREIRA!!", um pensamento cruza a mente dos dois músicos como uma flecha. Se Kid Morengueira havia morrido no ano passado, por que não lhe gravar uma homenagem?
Jards Macalé Canta Moreira da Silva foi lançado no ano de 2001 e é mais que uma homenagem póstuma a um grande amigo. Trata-se de uma releitura cuidadosa e cheia de qualidade dos mais finos momentos da obra do mestre do samba, que, portanto, deve ser tratado com seriedade, mesmo sendo um homem dos mais simpáticos. O álbum abre com Macalé espancando seu violão numa escrachada versão da hilária "Acertei no Milhar", onde Etelvina não chama mais a Morengueira, e sim a Macalinhas. Em seguida, uma versão de encher os olhos d'água de "Piston de Gafieira" traz para o ambiente toda a descontração, requinte e elegância de um sambão da década de trinta.
Macalé fez-nos o favor de juntar as duas partes de "Amigo Urso" numa só, tanto a cobrança desesperada quanto a resposta desdenhosa. O ouvinte logo percebe que de nada adianta ir ao Pólo Norte para reclamar pelos seus bens financeiros quando o seu amigo é um pilantra. "Margarida" é uma música bem-humorada sobre um relacionamento encerrado e suas consequências para o desesperado amante. A seguir, uma ligeira surpresa: Zeca Baleiro aparece cantando junto de Macalé em "Na Subida do Morro", com direito ao hilariante assassinato em câmera lenta. Os problemas com a polícia eram muito recorrentes na época da malandragem, e "Olha o Padilha" mostra muito bem isso. "Rei do Gatilho" e "O Último dos Moicanos" são as duas mais consagradadas "produções cinematográficas" de Kid Morengueira, interpretadas com maestria pelo músico freak carioca, fato que, como já explicitado anteriormente, deu origem ao álbum.
"Choro Esdrúxulo" é uma música que se define pelo título. Rimas bizarras, pouco sentido e um fagote porreta fazem desta uma faixa interessante e agradável. "Samba Aristocrático", por sua vez, é uma tentativa do mestre do breque de atingir o olimpo da música, agradando à gringaiada com "prosódia, ortografia e etimologia nas suas radicais". "Moreira Na Ópera" é uma provocação do Kid aos Três Tenores, interpretada com graça por Macalévsky, que faz questão em enfatizar seu potencial de "dar baixo onde estiver agudo".
Por último neste texto mas não no disco, "Tira os Óculos e Recolhe o Homem", parceria entre Macalé e Morengueira. A música narra uma ocasião onde Jards fora preso pelo governo militar por cantar duas músicas além do previsto num festival no nordeste. Por sorte, o bom e velho Moreira estava no lugar certo na hora certa e tirou seu colega da enrascada, selando uma amizade duradoura e respeitosa.
É uma homenagem muito bem prestada, deliciosa de se ouvir e boa para descontrair.
Afinal, morre o mestre mas o breque continua! Macalé acertou no milhar!

Faixas:
1. Acertei no Milhar
2. Piston de Gafieira
3. Amigo Urso/A Resposta do Amigo Urso
4. Margarida
5. Na Subida do Morro
6. Olha O Padilha
7. O Rei do Gatilho
8. Choro Esdrúxulo
9. Samba Aristocrático
10. O Último dos Moicanos
11. Tira os Óculos e Recolhe o Homem
12. Moreira na Ópera

Link nos comentários, vargulinos!

domingo, 10 de janeiro de 2010

Moreira da Silva - O Último Malandro (1958)

Foi no ano de 1936, durante um show em um cinema carioca. O então desconhecido sambista Moreira da Silva cantava "Jogo Proibido", de Tancredo Silva, quando decidiu interromper e improvisar umas falas em cima da letra original. Resultado: foi aplaudido de pé. Esperto, percebeu que tinha 'encontrado petróleo' na sua brincadeira: criara ali um gênero inovador, o Samba de Breque.
Nos anos seguintes, Moreira se consagraria como o mestre do novo estilo, que ficaria para sempre associado ao personagem que encarnou: o malandro carioca de terno branco e chapéu panamá. De 1938 a até meados dos anos 50, o sambista gravou algumas das canções mais importantes de sua carreira. As principais foram reunidas neste álbum,"O Último Malandro", de 1958.
Entre batucada e sopros, o disco é dominado pelo voz de Moreira, que canta como se estivesse conversando com um amigo. As letras são espetaculares, caminhando pelos temas típicos da malandragem, como carteado ("Jogando Com o Capeta"), jogo do bicho (a brilhante "Acertei no Milhar"), corridas de cavalo ("Que Barbada") e até complicações com a polícia e na justiça ("Olha O Padilha" e "Vara Criminal"). Mais encrencas são temas de sambas como "Chang-Lang", sobre uma briga num restaurante chinês e a sensacional "Na Subida do Morro", divertida e riquíssima em detalhes. "Amigo Urso" é outra faixa fantástica, em que Moreira viaja até o Polo Norte para cobrar uma dívida não paga.
"O Último Malandro" é a obra-prima de Moreira da Silva. O sambista estava no auge de sua carreira, cheio de brilho e animação. Animação que não perderia até o fim da vida: na velhice, fez parceirias com outros grandes nomes da MPB, como Chico Buarque em "Homagem ao Malandro" (1977), Bezerra e Dicró em "Os 3 Malandros In Concert" (1995) e Jards Macalé, quem Moreira considerava 'seu único aluno'. Apresentou-se em shows até o ano 2000, quando, aos 98 anos, morreu o último malandro carioca.

Faixas:
1. Que Barbada
2. Amigo Urso
3. Vara Criminal
4. Olha o Padilha
5. Dormi no Molhado
6. Dona História Com Licença
7. Jogando Com o Capeta
8. Acertei no Milhar
9. Na Subida do Morro
10. Averiguações
11. Esta Noite Tive Um Sonho
12. Chang-Lang

Baixe o disco pelo link nos comentários (link in comments).

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Moreira, Bezerra & Dicró - Os 3 Malandros In Concert (1995)

Moreira da Silva, Bezerra da Silva e Dicró. Três malandros, todos eles "sangue bom da música popular". O primeiro é o mestre do samba de breque. O segundo é praticamente o criador do partido alto. O terceiro defende as raízes do pagode. Muitíssimo bem humorados, resolvem se reunir e fazer um espetáculo para satirizar os Três Tenores, Luciano Pavarotti, Plácido Domingo e José Carreras. O resultado não poderia ser melhor. O trio da malandragem abre o show no municipal quebrando cristais com suas vozes agudas, representando boleros e, ainda tirando um sarro impiedoso dos seus "rivais" europeus. Nas palavras do trio, "estou desafiando na minha área só quem pode, quero ver Pavarotti, Domingo e Carreras cantando um pagode!". Tudo isso com breques acompanhados de música clássica! Os sujeitos realmente são uns fanfarrões!

Como ninguém é de ferro, o sarro tem um limite. Após quatro músicas satirizando os tenores, o núcleo da malandragem resolve recitar alguns de seus maiores sucessos (destaque para Morengueira com 93 anos representando sua bem-humorada "Na Subida do Morro", com direito à famosa morte slow-motion do vargulino que bate na sua nega), infelizmente não em trios, mas individualmente ou em duplas. Ainda assim, o bom-humor continua ao longo do disco, especialmente nos diálogos entre os malandros, que exalam o temperamento quente dos latinos.
O espetáculo vale a pena para os apreciadores dum bom samba e de uma bela sátira. Infelizmente, o disco não fez tanto sucesso quanto seu rival "3 Tenors In Concert", mas é uma pérola a ser apreciada.
Pessoalmente, prefiro os três malandros, ouié!



Faixas:
1. O Recital
2. Os Três Pagodeiros Do Rio
3. Ópera Do Morro
4. 3 Malandros In Concert
5. Ressuscita Ele
6. Chave De Cadeia
7. Malandro Não Vacila
8. O Político
9. Na Subida Do Morro
10. Dava Dois
11. Lugar Macabro
12. Jogando Com O Capeta
13. Rua Da Amargura

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