sexta-feira, 30 de julho de 2010

John Cage - American Sonatas and Interludes for a Prepared Piano (1946-48)

Prepare seu ouvido, amigo, que esse é difícil.
John Cage nasceu no começo do século passado, e calhou de morrer no final dele, com seus 80 anos. Seu pai era um inventor em Los Angeles, coisa que pesou em sua formação, como veremos. Quanto a sua mãe, jornalista, Cage dizia que ela era uma infeliz pessoa com senso de sociedade. Cage chegou até a escrever duas peças referidas a seus pais, nas quais trabalhou com um contraponto melódico descrevendo em “Crete”, e desenvolveu um tema mais vivo em “Dad”.
John começou a estudar piano no seu ensino primário, na sua quarta série. Foi sempre único, e sua música desenvolvia-se como nunca havia acontecido. Sempre um garoto de muita opinião, Cage veio a ingressar em uma universidade no início dos anos trinta, após viajar pela Europa. Nessa época, Cage foi ser discípulo de Arnold Schönberg, que pra quem não sabe, foi o ilustre austríaco “inventor” da técnica dos doze tons, a dodecafonia. Mas Arnold não ensinava a seus alunos o dodecafonismo, e Cage correu sua estrada própria.
Schönberg e Cage foram professor e aluno por dois anos, quando Cage se desvencilhou de seu mestre por uma “incompatibilidade ideológica”. Nessa época, John já estava desenvolvendo outras vertentes artísticas além da musical, como sua escrita e pintura.
No final da década de trinta, John começou a desenvolver uma face de sua música que muito foi renomada: sua relação com a dança moderna. Simpático com o movimento avant-garde, e conheceu grandes nomes na arte ocidental, como Max Ernst ou André Breton.
Nas décadas seguintes, John aderiu à cultura oriental, que muito o influenciou, inclusive, na obra “Sonatas e Interludes”, aqui presente. Esta e outras obras, como “4:33”, foram muito bem aceitas pelo público da época, e veio a fama nos anos sessenta. Cage aprimorou sua técnica em alguns aspectos nos anos consecutivos, abordando novos horizontes, até morrer nos anos noventa.
Bom, vamos falar de música, pois foi por causa dela que John Cage foi John Cage.
Cabe dizer que ele foi um inventor musical com diferentes personalidades. Certo momento optou pela música do acaso (depois chamada de música aleatória), que deixava fluir os momentos em um grande happening. Em outros momentos, optou pela composição matemática, pela contagem excessiva, e pelos padrões estudados, mas criativos.
O legado de Cage, entretanto, não está nessa forma de composição, mas usufrui dela. O que John fez foi uma revolução conceitual para a música. Transformou tudo que é sonoro em música, julgou todos ruídos como apropriados, e marcou ampliando os horizontes dos seus contemporâneos. Contudo, não pelo ruído que Cage é lembrado: é pelo silêncio. Cage, portanto, transformou tudo em música, até a ausência de sons. E esse foi, muito provavelmente, o conceito mais amplo de música já proposto. Bom. Não faltavam possibilidades para John Cage. Sua pesquisa foi extensa: ora ritmo, ora melodia.
Quanto á melodia, seu estudo do contraponto foi muito primoroso, e teve influencia do atonal passado de Schönberg além da vasta possibilidade que a quebra com a ortodoxia dos instrumentos melódicos lhe deu.
Já na parte rítmica, quando não foi tratada com o acaso, foi tratada numericamente. Em “Imaginary Landscape No. 1”, John decompôs a música em seções, os quais abordou com uma matemática estudada e contruida, sempre prezando pelo silencio. Essa estrutura rítmica de compassos contados e mudanças foram usadas também em “First Construction (in Metal)”, mas John ousou complicar ainda mais a estrutura, decompondo o número de bars em frações (mas mantendo a porporção inventada), fracionando, também, seu som. O resultado dessa experiência foi “Sonatas and Interludes”.
Nessa obra, Cage usou uma de suas invenções musicais mais renomadas: o piano preparado. Ele é, basicamente, um piano comum com objetos posicionados sobre ou entre as cordas. Pode ser difícil visualizar o instrumento, mas o que importa é o som, que é único.
É incrível como John Cage conseguiu trazer a amplitude do campo ideológico para suas composições, “físicas”. A expressão é diversa: ora encontramos sonatas com ar mais escuro (Sonata V), ora encontramos interlúdios com melancolia menor predominante (“Fourth Interlude”). Queria dar destaque a “Sonata XII”, que conseguiu alcançar primazia da fossa em ritmoe melancolia, tendo até momentos que lembram até a música minimalista (2:02-2:19 e 3:01-3:15). Para ilustrar o fracionamento da estrutura e da proporção de Cage, sugiro a Sonata V e a Sonata III.
Observando a carreira de Cage, é raro encontrar suas obrar interpretadas por ele próprio, e a lista de músicos que o acompanhou é tão enorme que não ouso nem estimar um número. O mesmo ocorre com “Sonatas e Interludes for a Prepared Piano”, que já encontrei, só aqui na Internet, 5 diferentes intérpretes em menos de um minuto. O escolhido para esse post foi Boris Berman, russo pioneiro que levou a música não ortodoxa para a Europa Oriental, tocando Stockhausen e Schönberg na Rússia.
Escute, por favor!

Faixas:

Sonata I
Sonata II
Sonata III
Sonata IV
First Interlude
Sonata V
Sonata VI
Sonata VII
Sonata VIII
Second Interlude
Third Interlude
Sonata IX
Sonata X
Sonata XI
Sonata XII
Fourth Interlude
Sonata XIII
Sonata XIV and XV, 'Gemini' (after the work by Richard Lippold)
Sonata XVI

Lincage nos comentários.

Jefferson Airplane - Takes Off (1966)


Rock'n'Roll psicodelíssimo direto na medula.
Antes de falar do Airplane temos que falar sobre o The Matrix. Nada de filmezinho com o Keanu Reeves, mas um clube em São Francisco fundado e aberto por Marty Balin. Esse tal Marty era um cantor que gravou algumas coisas "meio que sem sucesso nenhum assim", em 1962. Bom, voltando ao Matrix, nesse barzinho tocaram algumas consagradas bandas como The Doors, Big Brother & The Holding Co., Grateful Dead (que merecia um post belo post), John Lee Hooker, e a lista não para aí, só que em especial é preciso dizer que a The Great Society também tocou por lá.
Bom, nosso amigo Marty Balin conheceu Paul Kantner (guitarrista) num outro bar na cidade, Kantner fazia shows no circuito folk com Jerry Garcia (futuro Grateful Dead que tocou no disco Surrealistic Pillow) Janis Joplin e David Crosby, muito influenciados por The Weavers e The Kingston Trio. Marty Balin também teria conhecido, em 1964, em Los Angeles, o baixista David Freiberg quem se tornaria outro vocalista do Airplane.
Então Kantner e Balin viriam com a idéia de uma cantora, uma voz feminina para o grupo, eis que surge Signe Toly Anderson, que cantaria com o grupo por um ano até cair fora depois de ter seu primeiro filho (certo dia no Matrix foi tocar a Great Society e de lá eles tiraram a Grace Slick, mas isso é um tempo depois do disco em questão).
Em seguida Balin convida o amigo Jorma Kaurkonen, guitarrista de blues que conhecera na faculdade. O baterista Jerry Peloquin e o baixista Bob Harvey completam o grupo.
Ufa, ficou confuso o lance dos membros, certo? Acontece, que a confusão é grandinha. Em 1966 o grupo lança o disco Jefferson Airplane Takes Off e quem tocou no disco? Paul Kantner e Marty Balin nas guitarras e vocais, Jorma Kaurkonen na guitarra, Signe Toly Anderson nos vocais e percussão, Jack Casady no baixo e Skip Spencer na bateria (viu que já trocou a cozinha?). O disco de estréia do primeiro grupo e São Francisco a ter sucesso nacional. Isso é o Takes Off. Graças a esse disco, e alguma pressão de empresários, claro, o Airplane conseguiu marcar presença no Monterrey Jazz Festival, onde também tocaram Big Mama Thorton, Muddy Waters, David Brubeck Quartet entre outros.
E é isso aí.

Faixas
  1. "Blues From An Airplane" 2:14
  2. "Let Me In" 3:00
  3. "Bringing Me Down" 2:25
  4. "It's No Secret" 2:40
  5. "Tobacco Road" 3:31
  6. "Runnin' Round The World" 2:40
  7. "Come Up The Years" 2:34
  8. "Run Around" 2:40
  9. "Let's Get Together" 3:36
  10. "Don't Slip Away" 2:35
  11. "Chauffeur Blues" 2:29
  12. "And I Like It" 3:26
Fica a dica nos comments

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Jamelão - Interpreta Lupicínio Rodrigues (1972)

Na resenha que escreveu deste álbum, o crítico musical Tárik de Souza apontou que sua grandeza vem do "encontro de três instituições da MPB atemporal". A primeira é Lupicínio Rodrigues, genial compositor gaúcho que flertava com o brega e ficou eternizado por seus samba-canções sobre dor-de-cotovelo (termo cunhado por ele, aliás). A segunda, Jamelão, intérprete que foi voz principal dos sambas-enredo Escola da Mangueira de 1952 até 2006, ano de sua morte. E, por fim, a terceira é a Orquestra Tabajara, famosa e tradicional big-band de João Pessoa, liderada por Severino Araújo.
O resultado da fusão dessas três intituições é este disco, uma obra prima da música brasileira. Jamelão, com um vocal à lá era do rádio, canta cheio de paixão e angústia a dor de corno, dando vida às letras de Lupicínio Rodrigues, tudo isso acompanhado pelos brilhantes tabajaras.
Carregadas de emoções, canções como "Cigano", "Meu Pecado" e "Nervos de Aço" trazem viva a dor e a culpa da traição e do remorso. Remorso, aliás, pode ser visto cara-a-cara na belíssima "Ela Disse-me Assim". Outras faixas, como "Exemplo" e "Amigo Ciúme" revelam até certo prazer de Lupicínio por trás da dor do amor. E vale ainda mencionar mais algumas interpretações memoráveis de Jamelão, como "Torre de Babel" e "Vingança". Esta última, que encerra o disco com chave de ouro, Rodrigues escreveu após surpreender a mulher aos braços de um colega numa ocasião em que o músico retornou mais cedo de uma viagem. Algumas semanas depois, amigos do compositor de fato encontraram a moça bebendo e chorando na mesa de um bar, na mesma cena descrita pelos versos da canção.
Bom, é isso aí. Eis aqui o disco. Escute-o e conheça um pouco da tortura do remorso e da dor da traição desta grande obra.

Faixas:
1. Meu Pecado
2. Homenagem
3. Sozinha
4. Um Favor
5. Exemplo
6. Quem Há de Dizer
7. Cigano
8. Amigo Ciúme
9. Torre de Babel
10. Ela Disse-me Assim
11. Vingança

Link para download do disco nos comentários. Bom proveito.

Jackson do Pandeiro - Sua Majestade, O Rei do Ritmo (1960)

Jackson (apelido do paraibano José Gomes Filho) fez fama tocando seu pandeiro nos anos 50. Tendo impressionante versatilidade no ritmo, o músico ganhou destaque nas rádios locais e logo sua fama chegou ao Rio de Janeiro, cidade que já vinha tendo seus primeiros contatos com a música nordestina desde a explosão do baião pela voz de Luiz Gonzagão. O talento do forrózista de nome artístico americano era tamanho que este é lembrado até hoje pelo merecido título de "rei do ritmo".
Eis aqui, então, o álbum da coroação de sua majestade. Lançado no início dos anos 60, quando Jackson já havia se consagrado, o disco reúne os principais sucessos do artista na década anterior. Traz grandes músicas, desde o clássico "Canto da Ema", ao brilhante côco "Sebastiana", que marcou a estréia do cantor em 1953. Há também faixas extremamente bem-humoradas, como a sambística "Falsa Patroa", a sacana "Cremilda" e o engraçadíssimo "Xote de Copacabana", além dos divertidos rojões "Cabo Tenório" e "Forró em Caruaru".
Enfim, trata-se de um grande disco, no qual fica evidente o motivo de Jackson do Pandeiro merecer o nobre nome de rei do ritmo.

Faixas:
1. Forró em Caruaru
2. Cabo Tenório
3. O Canto da Ema
4. Sebastiana
5. Cremilda
6. Côco de Improviso
7. Xote de Copacabana
8. A Mulher do Aníbal
9. 1 x 1
10. Côco Social
11. Falsa Patroa
12. O Crime Não Compensa

Link pro download nos comentários, minha gente.

The Rolling Stones - Beggar's Banquet (1968)

Rock'n'Roll.
Rapaz, passei um tempo sem dar update aqui.
Bom, os Stones.
Em abril de 1962, o brilhante guitarrista, multiinstrumentista e virtuoso Brian Jones, o breve (tornaria-se pianista apenas nos álbuns e produtor de turnê da banda) pianista Ian Stewart, o performático vocalista Mick Jagger e o legendário guitarrista Keith Richards formaram uma banda única. Com o apoio de Charlie Watts na bateria e Bill Wyman no baixo. São até hoje uma das maiores bandas do gênero, conhecidas também por uma suposta rivalidade com os Beatles. Apesar de nunca terem tido a mesma capacidade de produção de altíssima qualidade, como o grupo de Liverpool, são extremamente conhecidos por pérolas do Rock'n'Roll como "(I Can't Get No) Satisfaction", "You Got Me Rockin'" entre outras.
Lançaram em 1964 um LP recheado de covers de bluesmans americanos, entre eles Willie Dixon, Chuck Berry e Bobby Troup e apenas uma única música própria, "Tell Me". Praticamente o mesmo LP seria lançado nos EUA para divulgação da banda com o pretensioso (e premonitório) nome England's Newest Hit Makers. Em 1965 outro disco de Covers, com uma ou outra música própria. Foi também nesse mesmo ano lançaram um dos maiores hinos do rock'n'roll, o single "(I Can't Get No) Satisfaction".
Em 1966 lançam o Aftermath, primeiro disco apenas com músicas próprias da dupla Jagger e Richards. Em 1967 sai outro cd incrível, Their Satanic Majesties Request.
E em 1968 lançam, o que é na minha opinião, o melhor disco da banda, Beggar's Banquet. Um disco do retorno ao Rock'n'Roll mais puro, depois das alucinações da psicodelia do Their Satanic Majesties Request. O disco marca o final das participações efetivas de Brian Jones nas gravações da banda. O Guitarrista viria a falecer em 1969 afogado na própria piscina (causa legal) porém foi constatado que havia feito uso abusivo de drogas, juntou-se então ao famoso grupo de músicos que morreram aos 27 anos.
Ainda acerca do Beggar's, um disco único, com grandes músicas, tais quais "Simpathy for The Devil", "Stray Cat Blues" (na minha opinião uma das melhores do grupo). Traz ainda "Jig-Saw Puzzle" e "Street Fighting Man" além do cover Prodigal Son, música de Robert Wilkins.
Um disco com uma pegada meio Country por vezes, como em "Dear Doctor", como a pegada Bob Dylan em "Parachute Woman" e por aí vai, na última fica a dica para a gaita de Brian Jones.
Enfim, um disco preciosíssimo.

Faixas:
Todas de autoria de Mick Jagger e Keith Richards, menos quando citado.
  1. "Sympathy for The Devil" 6:27
  2. "No Expectations" 4:02
  3. "Dear Doctor" 3:27
  4. "Parachute Woman" 2:24
  5. "Jig-Saw Puzzle" 6:17
  6. "Street Fighting Man" 3:18
  7. "Prodigal Son" (Robert Wilkins) 2:55
  8. "Stray Cat Blues" 4:41
  9. "Factory Girl" 2:12
  10. "Salt of The Earth" 4:51.
Fica a dica (download) nos comments

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Sly And The Family Stone - Fresh (1973)


Funky funky funky!
Na humilde opinião de quem lhes fala, foi formada em 1966 a melhor banda de funk da história da música: Sly & The Family Stone.
Numa união de bandas de irmãos (Sly & The Stoners e Freddie & The Stone Souls) o multiinstrumentista, arranjador, letrista, pai do funk, etc e tal Sly Stone e seu irmão Freddie, guitarrista e vocalista, junto com a trompetista Cynthia Robinson, o baterista Gregg Errico, o saxofonista Jerry Martini e o incrível baixista Larry Graham formaram tal banda. Um ano depois junta-se a eles a irmã Rose Stone, pianista e vocalista.
De 1966 até 1969 lançaram alguns dos melhores discos do gênero, entre eles Stand! de 1969, disco que garantiu ao grupo presença no lendário festival de Wodostock, onde também tocaram músicos como Jimi Hendrix, Janis Joplin e o Grateful Dead, e o Dance To The Music de 1968.
Porém foi em 1969 que o grupo sofreu com uma recaída pesada após uma discussão entre Sly Stone e Larry Graham e um abuso de drogas, especialmente cocaína e PCP, uma espécie de analgésico.
Em 1971 lançam o disco There's A Riot Going On que marca uma virada na sonoridade do grupo. Há uma fuga do Rock'n'Roll, da alegra sonoridade de músicas como "Higher" do disco Dance to The Music (1968) e agora o som é mais pesado e mais funkeado, provavelmento por influências dos grupos que começavam a pipocar no gênero, em especial o P-Funk.
Em 1973 é lançado o disco Fresh, um outro marco na banda que começa a apresentar linhas mais complexas e uma sonoridade mais intensa em comparação ao que já haviam feito.
Fresh é um disco brilhante, que traz em algumas faixas um pouco da sonoridade de Fela Kuti, em especial algumas linhas de percussão, sobra ainda o funkeado baixo e bateria, as linhas de metais estão cada vez mais criativas, ágeis e integradas às músicas e por fim, porém incrivelmente essencial os vocais começam a explodir como uma nova personalidade da banda, novos arranjos dos vocais que provam que Sly & The Family Stone é talvez a maior banda de funk de todos os tempos.
Fica a dica, Sly & The Family Stone - Fresh (1973) um disco que é um ponto de mudança na sonoridade da banda, pra melho ou pior não importa, mas é um grande disco, está entre os favoritos do gênio do funk George Clinton.

Faixas
  1. "In Time" 5:51
  2. "If You Want Me To Stay" 2:59
  3. "Let Me Have it All" 2:57
  4. "Frisky" 3:14
  5. "Thankful N Thoughtful" 4:42
  6. "Skin I'm In" 2:55
  7. "Don't Know (Satisfaction)" 3:55
  8. "Keep On Dancing" 2:55
  9. "Que Sera Sera" 6:44
  10. "If It Were Up to Me" 2:02
  11. "Babies Making Babies" 3:36
fica a dica nos comments.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Wes Montgomery - A Day in The Life (1967)

John “Wes” Montgomery nasceu em 1928, lá em Indianópolis, Indiana. Tinha irmãos que tocavam jazz (Buddy e Monk), mas só se interessou por música com seus 19 anos. Com essa idade, começou a praticar guitarra, estudando sozinhos, de forma autodidata. Diz a lenda que John ouvia e memorizava solos de Charlie Christian (um dos não muitos guitarristas de renome da dita “era do swing”, de quando o jazz era tocado por big bands como a de Count Basie ou de Benny Goodman, com quem, inclusive, Charlie Christian tocou), que foi uma de suas grandes influências. O dom era tanto que em seis meses John já tocava profissionalmente, quando Lionel Hampton o chamou para fazer um som com sua orquestra.
Uma das influências mais importantes de Wes foi o também guitarrista belga Django Reinhardt, cofundador do Quinttete du Hot Club de France. O som de Wes nasceu, portanto, em algum lugar entre o swing do jazz norte-americano e o tom cigano do jazz europeu quase revival de Django Reinhard. Por ser autodidata, Wes desenvolveu uma nova técnica para a guitarra, trocando, por exemplo, a palheta por seu polegar direito, o que tornou mais único ainda.
Um ano antes de sua morte, Wes lançou o disco cá presente: “A Day in The Life”, que concretizou o seu nome como guitarrista de pop-jazz, por mais que esse termo me soe inapropriado, pois ele não jogou fora o blues, apenas guardou-o no bolso. Bom, a grande novidade é Beatles jazzsificado nas faixas tema e na “Eleonor Rigby”, ambas com arranjo ora orquestrado com direito a violinos e cellos, ora jazz com pianos em síncopes e bongos dando o swing latino. São álbuns como esse que deveriam ser postos no gênero jazz-clássico. O disco também, encontra baladas que lembram o jazz revival com longa orquesta como “When a Man Loves a Woman” e faixas que fora desse disco seriam facilmente classificadas junto com Cal Tjaber ou Dizzy Gillespie, por ser bem latina, como em “Windy” ou “Watch what Happens”, sendo essa quase uma bossa nova.
A fórmula de tocar Beatles em jazz também foi experimentada por George Benson, em “The Other Side of Abbey Road”, tendo este uma grande influência de Wes. Cabe citar uma relação estrondosa entre a forma da capa dos dois discos.
Bom, atualmente ouvimos atualmente grandes figuras como Steve Ray Vaughan, Pat Metheny ou até Jimi Hendrix, mas muitas vezes nos esquecemos do jazz que os influenciou. E esse o elo dessa ligação foi Wes Montgomery.
Aproveite!

Faixas:
1. A Day in the Life
2. Watch What Happens
3. When a Man Loves a Woman
4. California Nights
5. Angel
6. Eleanor Rigby
7. Willow Weep for Me
8. Windy
9. Trust in Me
10. The Joker

linqueno comnetáerio

sábado, 17 de julho de 2010

Gilberto Gil - Gilberto Gil (1968)


Eu acho que fiquei devendo um aqui.
Gilberto GIl nasceu em 26 de junho de 1942 em Tororó, um bairro de Salvador e cresceu em Ituaçu, uma cidadezícula de menos de mil habitantes. Aos oito anos de idade volta a Salvador, ganha um violão etc e tal, típico progresso de músico brasileiro, influenciado por João Gilberto, na faculdade de administração conhece um grupo peculiar: Caetano Veloso, a irmã de Caetano, Maria Bethânia, Gal Costa e Tom Zé. Formou-se na faculdade em 1965 e se manda para SP com a mulher Belina.
Em 1967 estoura com os Mutantes numa apresentação para o III Festival da Música Popular Brasileira na qual tocaram "Domingo No Parque".
Em 1968 Gilberto Gil lança um dos melhores discos de sua carreira. E ei-lo!
Algo que se aproxima do disco perfeito. Gilberto Gil, acompanhado pelos Mutantes (Serginho Cabeludo Danado) e arranjado pelo maestro Rogério Duprat. Como poderia dar errado? Pois é, não deu. Deu certíssimo e o que temos é um dos maiores discos da música popular brasileira.
Mas hoje sim, julguemos um livro pela capa. Entramos em Sgt. Peppers e em Axis: Bold As Love. Sem medo as capas nos trazem a essa psicodelia do rock'n'roll inglês e americano, que misturadas à tropicália resultam nisso aí. Um disco capaz de definir o tropicalismo do Gil.
Como diz o baterista Dirceu em "Pega a Voga Cabeludo" "o som psicodélico é redondo que só uma gota".

Faixas:
  1. "Frevo Rasgado" 1:54
  2. Coragem Pra Suportar" 2:55
  3. "Domingou" 2:55
  4. Marginália 2" 2:40
  5. "Pega A Voga, Cabeludo" 4:44
  6. "Ele Falava Nisso Todo Dia" 2:33
  7. "Procissão" 2:56
  8. "Luzia Luluza" 4:04
  9. "Pé De Roseira" 3:03
  10. "Domingo no Parque" 3:43
  11. "Barca Grande" 2:42
  12. "A Coisa Mais Linda Que Existe" 3:59
  13. "Questão de Ordem" 5:32
  14. A Luta Contra a Lata ou A Falência do Café" 2:50
Dita a tradição do link no comment

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Sá, Rodrix e Guarabyra - Terra (1973)


Ié ié ié, sinhô!
Vou me arriscar aqui hoje sem muita propriedade para falar de algo que gosto, mas não entendo muito.
Em 1971 formou-se o grupo em questão integrando três músicos. Luiz Carlos Sá teve seu primeiro sucesso gravado em 1966 por Peri Ribeiro "Giramundo". Guttemberg Guarabyra obteve sucesso quando em 1967 o grupo Manifesto ficou em primeiro lugar no Festival Internacional da Canção com a música Margarida. Zé Rodrix tocava na banda Som Imaginário que acompanhava Milton Nascimento.
O grupo tem mais destaque por ter criado o que se chama de Rock Rural. O mesmo acaba fazendo uma mescla de Country e Folk americano com o Rock'n'Roll e canta sobre idéias do campo em versões urbanas.
Uma vez juntos lançaram dois LP's, Passado Presente e Futuro, de 1972 e Terra de 1973. Esse segundo eu trago aqui.
Um disco brilhante, de música típicamente brasileira, tirando dali e de acolá para fazer algo novo e único. Cantado de forma caipira, o disco traz um dos grandes sucessos da banda "Mestre Jonas", roquenrou de primeiríssima. Particularmente tenho grande apreço por "Blue Riviera" e "Pendurado no Vapor", todas as músicas são especialmente muito bem executadas. Os pianos e órgãos de excelentes solos, os vocais muito semelhantes ao estilo Country americano, as guitarras muito boas. "Pó de Estrada" é uma moda de viola acompanhada por flauta e guitarra que precisava aparecer mais na música brasileira.
É um senhor disco, não há nada igual ao que eu deixo aqui hoje.
Merece ser escutado, pra burro.

Faixas:
  1. "Os Anos 60" 1:50
  2. "Eu Vou Te Encontrar" 2:15
  3. "Mestre Jonas" 3:24
  4. "Blue Riviera" 3:15
  5. "Adiante" 2:36
  6. "Pendurado no Vapor" 2:52
  7. "Pó da Estrada" 4:08
  8. "Brilho Das Pedras" 4:14
  9. "Até Ver Mais" 3:14

Link nos Comments

quarta-feira, 14 de julho de 2010

The Bamboos - Step It Up! (2006)


Yeah Yeah yeah.
Saravá, meus caros e minhas caras.
Me apresentou o The Bamboos uma amiga que tem um gosto musical excelente, mas diferente do meu. Particularmente acho que muita coisa feita hoje em dia é desnecessária e que acaba ficando meio poluído o som cheio de sons e guitarras sem o feeling do funk. Nunca julguemos o livro pela capa. Já me disseram isso e eu por vezes ignoro, mas quando ouvi o som da banda (não esse CD) fiquei logo de queixo caído e convencido pelo que produziu a banda no seu terceiro cd (Side-Stepper (2008).
The Bamboos é uma banda nova (não tão nova), e por isso provavelmente esse post deve sumir daqui em pouquíssimo tempo por causa das gravadoras e tal.
A banda formada em 2000, é um grupo de soul e funk da Austrália. A banda consiste em oito pessoas. Lance Ferguson na guitarra, Danny Farrugia na bateria, Yuri Pavlivnov no baixo, Anton Delecca no sax tenor e flauta, Ross Irwin no trompete, Phyl Noy no sax barítono, Kylie Auldist nos vocais e Steve Hesketh no órgão Hammond. Para esse disco ainda não tinham a companhia da cantora Kylie Auldist e os vocais foram feitos por Alice Russel.
O grupo traz uma sonzeira velha para os dias de hoje, e não faz muita questão de mudar o que já foi feito. Faz tudo daquela brilhante forma na qual foi concebido o funk e o soul, linhas de guitarra simples, bateria bem ritmíca e baixo pegado e o órgão Hammond borbulha sonoridade (solo de "Black Foot" é doidão) e groove numa mistura perfeita contornada por belos arranjos de metais. Funkeira louca. Vale dizer ainda: há algumas jóias tomo "Step It Up", "Tighten It Up" e "Crooked Cop", mas o cd não baixa o nível em momento algum.
Brihante.

Faixas:
  1. "Step It Up (ft. Alice Russel)" 3:39
  2. Tighten It Up (Album Version)" 3:55
  3. "In The Bamboo Grove" 7:59
  4. "Golden Rough" 3:41
  5. "Black Foot" 3:45
  6. "Transcend Me (ft. Alice Russel)" 4:43
  7. "Tobago Strut" 4:25
  8. "Another Day in The Life of Mr. Jones" 3:16
  9. "Crooked Cop" 3:44
  10. "Eel Oil" 3:05
  11. "Voodoo Doll"

el link está en los comments

Mike Hankinson - The Unusual Classical Synthesizer (1972)

Boa noitardia.
Pesquisei o que pude sobre o seguinte álbum e sobre o artista, mas não consegui nada muito substancioso. Porém, não é só disso que precisamos para fazer essa resenha.
Mike Hankinson, pelo que tudo indica, era inglês, mas viveu na África do Sul. E... é isso.
O disco foi gravado em 1972, e leva consigo o título de “The Unusual Classical Synthesizer”: O álbum é Mike Hankinson com seu sintetizador, o “the Putney” VCS3, como indica a capa.
Sintetizador começou a ser ouvido principalmente no começo do século XX, tendo seu auge a partir dos anos 60, com a intervenção de Leo Theremin e com a aparição do Moog, o mais bam-bam-bam de todos sintetizadores da história. Naquela época, os recursos do sintetizador eram mais limitados, além do porte desses ser uma coisa muito pouco prática, por assim dizer. Esse então novo instrumento foi peça-chave de certas bandas dos anos 60/70, provavelmente porque permitia uma grande liberdade sonora, permitia a criação de um som único a cada instante.
O “the Putney” saiu ao mercado pela primeira vez em 1969, e é, atualmente, o dito sintetizador clássico, original: era monofônico, mas permitia gravações e tinha cerca de trinta canais para a manipulação do som. E, além disso tudo, ainda vinha numa bela caixinha de madeira.
O álbum leva o nome “The Unusual Classical Synthesizer”, e o nome é correto por duas razões. Em primeiro lugar, era difícil encontrar discos de artistas de sintetizador solo naquela época, e, em segundo lugar, era rara a reprodução de música clássica nestes instrumentos. Contudo, o álbum não é inovação, pois hits clássicos já tinham sido gravados por Wendy/Walter Carlos, no LP “Switched on Bach”, que também já foi resenhado aqui no Saqueando a Cidade.
Cabe falar do repertório. O álbum tem, em grande parte, composições do período clássico contando com compositores de grande renome como dois dos pés da trindade vienense: Beethoven e W. A Mozart. Quanto a Beethoven, encontramos uma de suas obras mais famosas fechando o disco: “Sonata para piano n.º 14”, ou “Sonata ao Luar”, que é posta com seus três movimentos onde são explorados tanto recursos rítmicos como a síncope quanto melancolia e drama postos no primeiro e no terceiro (e último) movimento da peça, respectivamente.
Bom, falando em sonatas, esse forma de música é predominante no disco, seja pela “Sonata Rondo” de Clementi, pela “Sonata em Ré maior” de Scarllati, ambos italianinhos fofos que merecem um beijinho na bochecha (não entendeu? Escute as sonatas). Mas o álbum também conta com serenatas, fugas e concertos, não se preocupe.
Tudo é muito bem executado, e dou destaque à apropriação de Beethoven e Bach no sintetizador nas faixas “Sonata ao Luar” e a famosa, a famosíssima “Tocata e Fuga em Ré Menor” de Bach.
Bom, acho que rendeu uma resenha, vai?

Faixas (em inglês):

1 Toccata and Fugue in D minor (Bach)
2 Variations - Mein junges Leben hat ein End (Sweelinck)
3 Sonata in D major (Scarlatti)
4 Sonata Rondo (Clementi)
5 Concerto in A minor (Bach)
6 Eine kleine Nachtmusik (Mozart)
7 Italian Concerto (Bach)
8 Moonlight Sonata (Beethoven)

linknoscomentários

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Tim Maia - Tim Maia (1970)


Ou ié, eu, de novo, tudo jóia com vocês?
Bem. Tim Maia é o cara, e todo mundo sabe disso. O maior vocalista de soul, funk, do brasil e, possívelmente o melhor cantor que já nasceu por essas bandas. Sebastião Rodrigues Maia, nascido dia 28 de setembro de 1942 em Niterói era o penúltimo de 19 (DEZENOVE, não errei nada na digitação) irmãos.
Em 1957 compôs Os Sputniks, grupo vocal do qual também fez parte Roberto Carlos. Em 1959 se mandou para os EUA onde aprendeu inglês e entrou em contato com o soul music, formou outro grupo vocal, The Ideals, mas foi deportado quatro anos depois. Em 1969 gravou junto à Elis Regina "These Are The Songs", de sua autoria.
Em 1970, por indicação dos Mutantes, a Polygram (gravadora citada no blog.. quem diria) chamou Tim Maia para gravar um disco. E ei-lo.
Produzido por Nelson Motta, o disco conta com Tim Maia nos vocais e violão (são dele também os arranjos), Genival Cassiano na guitarra, Guilherme na percussão, Zé Carlos e Capacete no baixo elétrico e Paulinho Braga na bateria.
É um disco essencial da música brasileira, é a primeira criação de Soul no Brasil que teve o merecido destaque na MPB. "Cristina" é um funk com a voz pegada do Síndico, destaque para o brilhante cantar de Tim Maia na música "Padre Cícero". "Coroné Antônio Bento", um baião roquenrou cheio de soul e groove, com o vocal brilhante do Tião de novo.
É nesse bolachão ainda que são lançadas as pérolas "Primavera", "Eu Amo Você" e "Azul da Cor do Mar".
Não preciso falar mais nada. E você, meu caro, precisa ouvir isso.

Faixas:
  1. "Coroné Antônio Bento" 2:16
  2. "Cristina" 2:09
  3. "Jurema" 1:18
  4. "Padre Cícero" 2:25
  5. "Flamengo" 2:06
  6. "Você Fingiu" 4:04
  7. "Eu Amo Você" 4:07
  8. "Primavera (Vai Chuva)" 2:13
  9. "Risos" 2:39
  10. "Azul da Cor do Mar" 3:22
  11. "Cristina No.2" 1:34
  12. "Tributo a Booker Pittman"
Linklá, mermão

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Louis Prima - The Wildest! (1957)


Wuh bee doo bee doo bah!
Nascido nos Estados unidos em 1910 em uma família de músicos descendentes de sicilianos. Nasceu no berço dos maiores músicos do jazz, New Orleans na Louisiana. Trumpetista claramente influenciado por Louis Armstrong de quem também tomou posse da brilhante forma de cantar. Louis Prima cresceu na sua cidade natal tocando Swing e Jazz, mudou-se para Nova Iorque como músico de orquestra de jazz, em seguida mandou-se para Los Angeles. Em 1947 incluiu, pela primeira vez em sua banda, uma cantora, no caso Cathi Ricciardi, que gravou com o nome Cathi Allen, e viria a ser substituída em 1949 por Keely Smith que o acompanha no disco que eu ponho aqui hoje.
Apesar de todo esse processo lançou seu primeiro disco (Breaking It Up!) apenas em 1953, aos 43 anos de idade. Em seguida lançou o brilhante the Wildest! (1957).
Uma combinação de Jazz, jump blues com um teco dos primórdio do Rock'n'Roll. O Wildest! a obra prima do cantor, acompanhado por sua esposa Keely Smith e pelo saxofonista de New Orleans Sam Butera. Foi gravado em alguns shows realizados em Las Vegas. O objetivo da gravadora Capitol era achar a real imagem de Louis Prima, que junto à banda tocava diversos shows por noite até as 6h00 da mahã do dia seguinte.
Música de primeiríssima qualidade, muito bem tocada e engraçada pelas sutilezas do cantor e de sua esposa.
Você também pode escutar o Louis Prima cantar como o King Louie do Moglie (Jungle Book em Inglês), sim o filme da disney.

Faixas:
  1. "Just a Gigolo / I Ain't Got Nobody" 4:45
  2. (Nothing's Too Good) For My Baby" 2:38
  3. "The Lip" 2:18
  4. "Body and Soul" 3:25
  5. "Oh Marie" 2:28
  6. "Basin St. Blues / When It's Sleepy Time Down South" 4:14
  7. "Jump, Jive an' Wail" 3:31
  8. "Buona Sera" 3:00
  9. "Night Train" 2:49
  10. "Ill Be Glad When You're Deade, You Rascal You" 3:16

tá lá nos comments!

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Os Mutantes - Compactos e Raridades (1976)


Ou ié!
Os caras (leia-se: outros blogueiros daqui) vão me matar se eu continuar postando umas coisas assim. Eu juro que paro.
Então. Os Mutantes, de novo, mas é bom, então só ficar pondo aqui é o mínimo que se espera de alguém que... sei lá quem. E retorno ao ponto do meu primeiro parágrafo que diz que eu apenas ponho música que gosto, e não coisa desconhecida e diferente (quanta asneira nessa frase).
Bom, esse disco, essa coletânea, melhor dizendo, é um agregado de músicas do grupo paulista de quem eu já falei bastante no post A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado de 21 de abril deste presente ano.
Toda banda tem um começo, certo? bom esse disco é um catadão de coisas do começo, de antes, durante e sei lá, muita sonzeira bacana.
"Tudo Bem" é, na minha infeliz opinião quiçá a melhor música deles. Tem ainda "Mande um Abraço Pra Velha", muita loucura. "Glória ao Rei dos Confins do Além" é a psicodelia pesada da tropicália, sonzeira muito similar à dos Beatles no caso.
"Suicida" e "Apocalipse" são duas músicas do grupo O'Seis, são muito diferentes da produção da banda Os Mutantes, a primeira um roquenrou ao estilo do Rei Roberto Carlos, mas com uma letra irônica e hilária e belos solos do Sérgio Dias. A segunda é uma baladinha, novamente hilária. Brilhantes.
Sobra ainda cinco faixas de um show com o Caetano Veloso. "A Voz do Morto", brilhante, "Baby", especial e "É Prohibido Prohibir" dispensa comentários.

FAIXAS:

01.Cavaleiros Negros
02.Tudo Bem
03.Balada do Amigo
04.Mande um Abraço pra Velha (Versão Longa)
05.Ando Meio Desligado (Outra Versão do LP)
06.Jingle da Shell
07.Ando Meio Desligado/Não Faz Marola (Ao Vivo TV FIC)
08.Ando Meio Desligado (Versão Single)
09.Banho de Lua/2001 (Ao Vivo TV)
10.Glória ao Rei dos Confins do Além
11.Suicida (O'Seis Compacto)
12.Apocalipse (O'Seis Compacto)
13.A Voz do Morto (Ao Vivo com Caetano Veloso)
14.Baby (Ao Vivo com Caetano Veloso)
15.Saudosismo (Ao Vivo com Caetano Veloso)
16.Marcianita (Ao Vivo com Caetano Veloso)
17.É Proibido Proibir (Ao Vivo com Caetano Veloso)

Lá nos comments tem um linkiu

Riz Ortolani - Cannibal Holocaust (1980)

Lançado em 1980, Cannibal Holocaust (no Brasil, "Holocausto Canibal") fez fama como filme maldito. Contava a história do resgate de um grupo de jovens americanos que desapareceu após adentrar na floresta amazônica a fim de filmar índios canibais (desapareceram ou foram devorados, ó céus?!). Tinha tudo, portanto, para ser um filme de terror de baixo orçamento como qualquer outro... Entretanto, trazia cenas gratuitamente chocantes e violentas, como assassinatos de animais de verdade. A mais emblemática talvez seja uma na qual um ator arranca um casco de uma tartaruga viva a sangue frio, para em seguida matá-la.
Somado a isso, há o fato de que o elenco concordou com o diretor em não aparecer na mídia após o lançamento do longa, de forma a se criar suposições de que estes haviam morrido ou desaparecido durante as filmagens. Veio então outro boato para deixar tudo ainda mais quente: a hipótese de que um índio que aparece empalado em uma cena (cuja imagem está na capa do álbum) estaria realmente morto. Tal coisa levou o diretor italiano Ruggero Deodato aos tribunais, e este teve que fazer o possível para revelar a verdade. Mesmo assim, Holocausto Canibal entrou pra história em função de sua proibição em cerca de 50 países, o que só lhe deu mais status de underground e maldito.
Apresentado o curioso filme e todo mistério que o cerca, falemos agora de um aspecto interessante da obra do ponto de vista artístico: a trilha sonora. Composta por Riz Ortolani, músico que trabalhou para uma série de trilhas de filmes italianos, é bela suave, criando um claro contraste com a extrema violência e escatologia das imagens.
A música tema, com sintetizador e guitarra, é emocionante e até um pouco triste, enquanto faixas como "Massacre of the Troupe" e "Savage Rite" tentam brincar, numa maneira eletrônica, com músicas tribais. Já "Relaxing In The Savana" e "Drinking Coco" não parecem trilha sonora. Pelo contrário, são gostosos rockzinhos instrumentais cheios de swing, à moda da época.
Então aqui está, um disco que não é um grande álbum, mas é sem dúvidas uma das coisas que o filme Holocausto Canibal tem a ofercer de melhor.

Faixas:
1. Cannibal Holocaust (Main Theme)
2. Adulteress' Punishment
3. Cameramen's Recreation
4. Massacre Of The Troupe
5. Love With Fun
6. Crucified Woman
7. Relaxing In The Savana
8. Savage Rite
9. Drinking Coco
10. Cannibal Holocaust (End Titles)

Link para download do disco nos comentários.
Ah, sei que este é um blog de música e tal, mas coloquei também um link pros interessados assistirem o filme (mas olha lá, não recomendo, nem pra quem tem muito estômago).

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Jards Macalé - Aprender A Nadar (1974)

"Meu nome é Jards Anet da vida. Ou melhor, da Selva. Ou pior, da Silva. Ou pior, da Selva. Ou pior, da Silva. Distinto público, vou ficar aqui exposto à audição pública como o Faquir da Dor", anuncia Jards Macalé com sua voz grave, apresentando-se a seu ouvinte no pout-pourri que é a faixa inicial do álbum 'Aprender A Nadar', de 1974. Aqueles que ainda não conheciam o músico já conseguem perceber aí um pouco de seu tom singular e anárquico que, somado à constantes desentendimentos com as grandes gravadoras, lhe renderam (à contragosto) o título de 'maldito'.
Tendo iniciado sua carreira profissional em 1965 no grupo Opinião (ao lado de Maria Bethânia e outros grandes nomes da MPB), Jards ganhou maior projeção após a vaiada apresentação da música "Gotham City" no IV Festival Internacional da Canção, em 1969. Fez parte da Tropicália, mas rompeu com Caetano e Gil por achar que o movimento havia sido engolido pela indústria cultural. Gravou seu primeiro álbum solo em 1972 ("Jards Macalé", já postado aqui no Saqueando) e organizou, no ano seguinte, o memorável (e subversivo) espetáculo "Banquete dos Mendigos".
Eis que fez, em 1974, ao lado do tropicalista Wally Salomão, "Aprender A Nadar", disco cujo título Macalé pegou emprestado do "Mambo da Cantareira", de cômico Gordurinha, compositor de forrós que fez fama no início dos anos 60. Neste álbum, Jards apresenta não só sua interpretação do mambo (melhor que a original, por sinal) como também outra composição gordurinhense: a divertidíssima "Orora Analfabeta", sobre uma bela e nobre dama que comete, porém, erros dramáticos de português.
Entre outros bons momentos, o disco traz "Estatuto da Gafieira", de Billy Blanco, a brilhante "Anjo Exterminado", composição original, e "E Daí...?", de Miguel Gustavo, que ganha arranjo de Wagner Tiso e flerta com outros sambas clássicos, como "Mora na Filosofia", de Monsueto Menezes.
Em outras palavras, o que temos aqui é um grande álbum de um artista injustiçado, taxado de "marginal" e "maldito" por não ter se curvado diante das grandes gravadoras e, ao invés disso, 'aprendido a nadar'. Reza a lenda, aliás, que na ocasião do lançamento, Jards Macalé atirou-se de uma barca da Cantareira nas águas da Baía da Guanabara.
Aprendeu a nadar, pelo que vemos.

Faixas:
1. Jards Anet da Vida / Dois Corações / No Meio do Mato / O Faquir da Dor
2. Rua Real Grandeza
3. Pam Pam Pam
4. Imagens
5. Anjo Exterminado
6. Dona do Castelo
7. Estatuto da Gafieira
8. Mambo da Cantareira
9. E Daí...? (com Mora na Filosofia)
10. Orora Analfabeta
11. Senhor dos Sábados
12. Boneca Semiótica
13. Dois Corações

Link para download nos comentários.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Fela Kuti - Alagbon Close (1974)


Salve salve camará.
Bom, meus caros, hoje é dia de continuar meu post passado. Lembremos o que foi dito sobre a ascensão do funk na década de 70 e pois bem. A ascensão do gênero chegou à África e caiu no colo do nigeriano, arranjador, multiinstrumentista, compositor, ativista político, etc e tal, Fela Ransome (Anikulapo) Kuti.
Nascido em Abeokuta na Nigéria em 1938 filho de uma ativista feminista e um pastor protestante e diretor de uma escola. Em 1958 Fela foi enviado para Londres a fim de aprender medicina, mas acabou estudando música. Em Londres montou a banda Koola Lobitos, misturando o jazz americano, o rock psicodélico e os sons da África Ocidental, eis o Afrobeat. Em 1969 Fela Kuti levou sua banda para os Estados Unidos. Conheceu o movimento Black Power e os Panteras Negras, a orientação política gerou grandes mudanças nas suas composições e gerou a troca de nome da banda para Nigeria 70' que viria a tornar-se Africa 70'. A banda foi deportada de volta para a Nigéria por não ter licensa de trabalho. Trocou seu nome do meio e tudo isso misturado ao lançamento de EP's e Discos. Viria a falecer em 1997 por complicações de AIDS.
Em 1974 lança vários trabalhos interessantes. Entre eles o EP Alagbon Close. Duas faixas que, na minha humilde opinião exprime bem o que é o Afrobeat e traz as novidades do Funk americano da década de 70. Batuques, saxofone, bateria, piano, guitarra, baixo, tudo brilhante, de um cara que merece a atenção de todos, um toque especial no solo de órgão no final de Alagbon Close.
Abração

Faixas:

  1. "Alagbon Close" (Fela Kuti) 17:01
  2. "I No Get Eye For Back" (Fela Kuti) 11:24

O link fica a disposição dos interessados nos comments.

sábado, 3 de julho de 2010

Parliament - Osmium (1970)


Get funky babe!
Ah o Funk, o que seria do groove sem ele? O funk é um estilo americano surgido nos anos 60 nos Estado Unidos mesclando o R&B e o Soul com ênfase em fraseados de guitarra pegados (por vezes apenas um acorde) e linhas de baixo fortes, pegada bem motown. No meio da década de 60 o funk era a imagem de James Brown, Sex Machine, Watergate, etc.
Na década de 70 o nome do funk era George Clinton, o cabeça de dois projetos contemporâneos, o Funkadelic e o aqui divulgado hoje, o Parliament. Os dois grupos com membros em comum por vezes são coletivamente chamados de Parliament-Funkadelic ou P-Funk. No meio da década de 70, após disseminação do funk pelo país os retornos são o Sly & The Family Stone, Rufus & Chaka Khan, Isley Brothers, etc.
E é de metade do P-Funk que eu vou falar nesse saque. O Parliament foi a grande banda de Funk da década de 70, encabeçado por George Clinton. George Clinton é o vocalista do Parliament e é considerado um dos pais do Funk juntamente com James Brown e Sly Stone. O Parliament começou de uma brincadeira numa barbearia. E para organizar tudo de vez, Clinton juntou-se a Billy "Bass" Nelson, baixista que trabalhava na barbearia e Eddie Hazel nas guitarras. Para completar a banda o guitarrista Tawl Ross, o organista Mickey Atkins e o baterista Tiki Fulwood. Para acompanhar George Clinton, Fuzzy Haskins, Calvin Simon, Grady Thomas e Ray Davis integraram os vocais do parliament.
Em 1970 essa banda grava um disco chamado Osmium. Funkeira de primeira com fraseados cheios de groove e feeling, bateria pirada e bem tocada, órgão rasgado e lindos vocais marcam um novo cenário musical no primeiro disco do Parliament, apesar de muitos acreditarem que o Up for The Down Stroke o seja.
O grande diferencial do Parliament é que ele traz diversas influências do Funkadelic que o distanciam daquilo que é o funk como definição no primeiro parágrafo desse post. Algumas (grande parte) das músicas apresentam influências pesadas do Rock'n'Roll americano da década de 60, como "Little Ole Country Boy" e "My Automobile". Outras são funk puro como "I Call My Baby Pussycat".
O disco foi lançado por várias gravadoras com diferentes ordens de músicas. Esse que eu ponho à sua disposição é diferente de todas, mas tem todas as músicas e eu sei lá porquê.
Funkeira de primeira geração é isso aí.

Faixas:
  1. "I Call My Baby Pussycat"
  2. "Put Love In Your Life"
  3. "Little Ole Counry Boy"
  4. "Moonshine Heather"
  5. "Oh Lord, Why Lord-Prayer"
  6. "My Automobile"
  7. "Nothing Before Me But Thang"
  8. "Funky Woman"
  9. "Livin' The Life"
  10. "Silent the Boatman"
  11. "Red Hot Mama"
  12. "Breakdown"
  13. "Come In Out of The Rain"
  14. "Fantasy is Reality"
  15. "Unfinished Instrumental"
  16. "Loose Booty"
  17. "Breakdown (Mono 45 Version)"

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Walter Carlos - Switched-on Bach (1968)

Wendy Carlos (antes Walter), foi um músico que já começou cedo: com seis anos de idade, já tomava aulas de piano. Muito estudioso, formou-se na universidade e começou a trabalhar, musicando. O tempo passou, a tecnologia se aprimorou: O sintetizador, que começou a ser esboçado no fim do século XIX por um sujeito que resolveu brincar de telefones e tirar um som deles, se aperfeiçoou.
Walter conseguiu um nome no meio da música, e não somente da eletrônica. Trabalhou fazendo diversas trilhas sonoras, sendo a mais reconhecida dele a de Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick, em 1971. Uma explicação/curiosidade: Walter descobriu que era mulher por dentro, e fez uma cirurgia de mudança de sexo, tornando-se Wendy Carlos.
Em 1968, Walter decidiu montar, com um Moog (modelo de sintetizador), diversas obras de Bach. O resultado foi o disco “Switched-On Bach”, onde Walter tocava clássicos de Bach, tal qual “Jesus, Alegria dos Homens”, mas sempre com uma cara tecnológica e atual. O disco ganhou renome na época, e chegou até a ganhar o Grammy de Melhor Álbum Clássico. Há quem diz que o álbum foi influenciado pela era da pisicodelia, mas não cabe comparar.
Para quem não conhece Bach, ele foi um grande compositor alemão do século XVIII-XVIII, que dominava os recursos da fuga, e do contraponto. Fez parte do que chamamos atualmente do movimento barroco, para o qual atribuísse-se os valores de rebuscamento, contraste e cristandade. Foi pouco conhecido enquanto vivo, mas famosíssimo morto. Não que a morte valorize a obra, mas tem certos artistas que se encaixam melhor em tempos que não são deles.
Em “Switched-on Bach”, Carlos executou divinamente (sim, divinamente! Isso é sonzeira barroca!) a essência de Bach, mesmo que a transmutando para a atualidade. O disco é bem fragmentado, e nele tudo que Bach deixou de legado pode ser percebido. Seja pela fuga presente em “Two-part Invention in D Minor” e em “Two-part Invention in F Major”, ou pela cristandade de “Jesus, Alegria dos Homens”.
E é claro que Carlos não transcreveu ipsis litteris as partituras de Bach para seu Moog. Há subversão, inovação, basta escutar dez segundos de “Brandenburg Concerto No. 3 In G Major, II-Adagio [First, 1968 Version]”.
Como o barroco tratava de contrastes, vistos nas artes plásticas com o preto e o branco, nada melhor que tornar o barroco na atualidade um contraste, interpretando e olhando-o através de uma lente tecnológica.
Wendy Carlos é gênio(a).

Faixas:

Lado A

1. "Sinfonia to Cantata No. 29"
2. "Air on a G String" (from Orchestral Suite No. 3)
3. "Two-Part Invention in F Major"
4. "Two-Part Invention in B Flat Major"
5. "Two-Part Invention in D Minor"
6. "Jesu, Joy of Man's Desiring" (from Cantata No. 147)
7. "Prelude and Fugue No. 7 in E Flat Major" (from Well-Tempered Clavier)

Lado B

1. "Prelude and Fugue No. 2 in C Minor" (from Well-Tempered Clavier)
2. "Chorale Prelude" "Wachet Auf"
3. "Brandenburg Concerto No. 3 in G Major - I-Allegro"
4. "Brandenburg Concerto No. 3 in G Major - II-Adagio"
5. "Brandenburg Concerto No. 3 in G Major - III-Allegro"

linke nos coments, comparça!

[Sublime Frequencies 056] Ecstatic Music of the Jemaa El Fna (2010)

Jemaa El Fna (em português, "Assembleia dos Mortos") é uma grande praça na região fortificada da cidade de Marrakech, em Marrocos. Apesar do nome sombrio que o local carrega, proveniente do fato de que este serviu, há muito, como espaço para execução pública de criminosos, a praça é um dos principais centros culturais do país, onde se encontram contadores de histórias, mágicos, artistas circenses e, é claro, músicos.
O que temos aqui é nada mais nada menos do que uma fabulosa compilação de gravações ao vivo das músicas que podem escutadas com anoitecer na Jemaa El Fna, feitas no ano de 2005. A organização do álbum foi realizada em 2010 pelos caras da Sublime Frequencies, um coletivo de interessados em pesquisar e divulgar as mais diversas formas musicais populares (seja folclórica, seja pop, ou mesmo um misto de ambos) de países subdesenvolvidos, em especial orientais.
"Ecstatic Music of the Jemaa El Fna", seguindo a mesma linha dos outros trabalhos dos caras, reúne alguns dos grupos de artistas de rua que, com seus instrumentos ligados à baterias de carros e megafones, preenchem toda a praça de Marrakech com seu som. Som que é um Chaabi, ritmo popular marroquino, tocado com guitarras elétricas, percussão e instrumentos tradicionais, como o alaúde e o sintir (espécie de baixo quadrado de três cordas), amplificados. Cheias de força, paixão e energia, as canções dos grupos aqui presentes (Amal Saha, Troupe Majidi e Mustapha Mahjoub) contam também com participação da multidão da Jemaa El Fna, que acompanha cantando e batendo palmas.
É um belíssimo disco, que traz envolventes pérolas musicais da cultura marroquina. Para aqueles que estiverem com um pé atrás em ouví-lo, dá pra ter uma prévia com o trailer do filme "Musical Brotherhoods From The Trans-Saharian Highway" (outro projeto da Sublime Frequencies, que, aliás, deu origem a este disco), no Youtube.
Bom, tá aí.

Faixas:
1- Daouini - Amal Saha
2- Essiniya - Troupe Majidi
3- Tal Raibak Arzali - Mustapha Mahjoub
4- Khoudrini - Troupe Majidi
5- Sabra and Shatilla - Amal Saha
6- Khlili - Troupe Majidi
7- Lahmami - Amal Saha
8- Rsami - Troupe Majidi
9- Afriquiya - Troupe Majidi

O link para download encontra-se nos comentários.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Sun Ra - Space is the Place (1972)

Herman Blount era um menino do Alabama, um ótimo estudante. Quando pequeno, sofreu de uma hérnia testicular, e sentia muita dor e, em conseqüência disso, privava-se de muito convívio social. Desde seus dez anos, quando começou a escrever suas musiquinhas, tinha um dom para as teclas, dominava o piano e o teclado que era inacreditável. Com vinte anos, começou a formar bandinhas por ai enquanto continuava estudando. Blount gostava de fazer arranjos, e era muito criativo, talvez ousado demais para aquela época.
Em 1946, o músico Fletcher Henderson contratou-o para arranjar temas de sua banda. Um ano depois, porém, Herman foi demitido do cargo devido às reclamações dos músicos da banda quanto à dificuldade de tocar os arranjos oriundos da cabeça ultra-inventiva de Blount.
Mais ou menos essa época Herman estudou e discutiu muito egiptologia, cosmologia, ficção científica e afins junto com o produtor Altam Abraham. Juntos decidiram, tempos depois, a formar uma banda que unia jazz, mitologia, orgulho negro, ficção científica e o cosmos. Juntos formularam um plano de fundo que acarretou na reencarnação de Herman Blount em Sun Ra, um viajante vindo de saturno para ajudar os negros maltratados na terra, procurando um novo local para esses em galáxias distantes. O nome Sun Ra é, muito provavelmente, em alusão a Ra, o deus-sol do Egito.
Na metade dos anos 50, Sun Ra começou a fazer aparições com a sua banda, ou melhor, sua Arkestra, como era chamada. Esta sempre carregava conotação espacial (chama-se algo derivado de Solar-Mith ou Mith-Science), assim como todos os álbuns lançados por Ra.
Nessas apresentações, Ra mostrava sua versatilidade usando diversos sintetizadores e órgãos. E esse grupo começou a lançar discos descomunalmente. Eram mais de dois discos por ano aproximadamente.
Em 72, influenciado pela era da psicodelia, Ra e seu grupo montaram um filme, e conjuntamente a esse, um disco, ambos de nome: “Space is the Place”. Esse foi o auge da música de Sun Ra, onde ele passou de estranho para intrigante para muitos. Ele já tinha lançado mais de 40 álbuns até então, mas o filme e o disco marcaram sua trajetória na terra.
O LP contava com 5 faixas, muito diversas umas das outras. Na primeira delas, de nome do disco, Sun Ra fez um complexo arranjo que dispunha um jazz confuso e único que emergia numa liberdade cósmica. O trabalho com o atonal e com o free jazz eram evidentes, embora ocorresse a clara evidência de um arranjo sólido por trás dos vinte minutos aparentemente aleatórios que circundam essa faixa.
Contudo, não é somente na aleatoriedade que Sun Ra se estabelecia. É claro esse recurso em faixas como “Rocket Number Nine” ou “Sea of Sounds”, ambas faixas muito únicas, em especial a segunda, pela disposição de um imenso arsenal de sons inéditos em músicas. Mas na segunda faixa do álbum, “Images”, é posto um jazz com direito a tema no piano e walking bass, além de um naipe de metais bem característico e melancólico.
Terminando, cabe citar a terceira faixa, onde Ra mostra a monotonia e o arrastamento representado pela “Discipline”, pela disciplina. Ele, de certa forma, coloca como é chata mas diversa essa cadeia, um tema muito explorado por ele, ao passo que ele é, de certa forma, uma quebra com o método.
Bom, depois desse disco Sun Ra lançou mais de 30 álbuns, alguns mesmo após sua morte, e mostrou-se o músico mais excêntrico e controverso do mundo do jazz.
E esse disco merece muito mais que uma mera resenha, escute-o.


Faixas:
1- Space is the Place
2- Images
3- Discipline
4- Sea of Sounds
5- Rocket Number Nine

linke espacial nos comentários

Gal Costa - Fa-Tal - Gal a Todo Vapor (1971)


Caraca bixo óia esse blog na correria. Quem diria que eu subestimei esse povo.
Salve salve e do jazz e do baião trago de novo roquenrou. com "Q", "U" e "E" mesmo. Gal Costa é ROQUENROU.
Quem frequenta o blog sabe de quem eu to falando por que eu já disse quem é essa mulher. Uma gigante brasileira. A melhor cantora da história da música brasileira. Disse Elis Regina: "As únicas cantoras do brasil somos nós duas". E a pobre Elis (por quem sou declaradamente apaixonado) que me perdoe.
Bom. Esse disco é uma grande soma de gravações ao vivo. Mesclando Janis Joplin e Caetano Veloso, baiana como dá, Gal Costa gravou algo único.
Perfeito. É roquenrou de primeira. as primeiras cinco faixas deveriam ser o suficiente. A música "Dê um Rolê", composta por Luiz Galvão e Moraes Moreira, dos Novos Baianos, é aqui aprimorada, energizada, estupefadicamente explodida e transformada num roquenrou cheio de feelling. "Pérola Negra" de Luiz Melodia é outro clássico reinventado. "Mal Secreto" é uma das minhas músicas favoritas desse disco, composta pelo gênio negado da tropicália Jards Macalé e Waly Salomão. Linda é "Como Dois e Dois" e por aí vai. Fica ainda faltando dizer das grandes canções "Coração Vagabundo" de Caetano Veloso, "Falsa Baiana" de Geraldo Pereira, a folclórica "Antonico" de Ismael Silva e a música que parece idealizada para Gal Costa, feita para ela, encaixe perfeito "Vapor Barato" também de Jards Macalé e Waly Salomão.
Talvez o maior disco da carreira da Gal. Talvez o escambau.
Para uma baiana de verdade, que incomoda, pra bater palma, abrir a roda e dizer "ôba salve a Bahia!"
Fica aí, no saqueando a obra prima da maior cantora do Brasil. Prometido e cumprido Gal Costa A Todo Vapor.

Faixas
  1. "Dê um Rolê" (Luiz Galvão, Moraes Moreira) 4:06
  2. "Pérola Negra" (Luiz Melodia) 4:44
  3. "Mal Secreto" (Jards Macalé, Waly Salomão) 5:02
  4. "Como 2 e 2" (Caetano Veloso) 4:33
  5. "Hotel das Estrelas" (Duda Machado, Jards Macalé) 4:30
  6. "Assum Preto" (Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira) 3:50
  7. "Bota a Mão nas Cadeiras" (tradicional do folclore baiano) 1:09
  8. "Maria Bethânia" (Caetano Veloso) 0:45
  9. "Chuva, Suor e Cerveja" (Caetano Veloso) 2:00
  10. "Luz do Sol" (Carlos Pinto, Waly Salomão) 5:22
  11. "Fruta Gogóia" (tradicional do folclore baiano) 0:41
  12. "Charles Anjo 45" (Jorge Ben) 0:27
  13. "Como 2 e 2" (Caetano Veloso) 2:46
  14. "Coração Vagabundo" (Caetano Veloso) 3:45
  15. "Falsa Baiana" (Geraldo Pereira) 5:35
  16. "Antonico" (Ismael Silva) 4:47
  17. "Sua Estupidez" (Erasmo Carlos, Roberto Carlos) 4:03
  18. "Fruta Gogóia" (tradicional do folclore baiano) 1:07
  19. "Vapor Barato" (Jards Macalé, Waly Salomão) 8:38
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