domingo, 31 de janeiro de 2010

The Deviants - Ptooff! (1967)

O Deviants se formou no fim da década de 60 e se destacou dos demais grupos do underground psicodélico não só por ter conexão forte com artes plásticas e com o trabalho multimídia, mas por ser apenas um veículo para o trabalho poético do escritor Mick Farren, líder do grupo. Sua sonoridade estava, de acordo com o próprio Farren, entre os Stooges e o Frank Zappa. Eram desleixados pacas. Era o nascimento do movimento UK Underground.
Foi em 1967 que os jovens do Deviants fizeram amizade com o milionário Niguel Samuel, que resolveu bancar seu disco de estréia. O projeto era ousado demais. A banda investiu numa capa maravilhosa e colorida, que se abria em três dobras, formando um desenho explosivo e bizarro, mas muito belo. As músicas também são ousadas. Misturando ritmos suaves e pesados, a banda produziu um disco de estréia sensacional. A viagem psicodélica do underground britânico parte de uma introdução obscura e segue em meio às pesadas guitarras fuzz de "I'm Coming Home", o coro bem ritmado e os sopros de madeira de "Child Of The Sky", a bluezeira "Charlie", a aterradora "Nothing Man", a psicodélica "Garbage", a relaxante "Bun" e, finalmente, a proto-progressiva "Deviation Street".
É uma obra interessantíssima, valendo muito pela arte, pelas letras e pela musicalidade ousada do grupo. Certamente você, caro leitor, jamais ouviu algo assim antes.

Faixas:
1. Opening
2. I'm Coming Home
3. Child Of The Sky
4. Charlie
5. Nothing Man
6. Garbage
7. Bun
8. Deviation Street

Link nos comentários, galerinha esperta.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

World Psychedelic Classics 3: Love's A Real Thing - The Funky Sounds Of West Africa (2005)


Bem, como o própio título mostra, a coletânia psicodélica da costa oeste africana funde talentosos musicos dessas regiões e com uma pitada de funk, deixa o cd completo para ser lembrado durante muito tempo. Algumas músicas são cantadas pela lingua local dos músicos e outras são utilizadas o dialeto americano, que deixa apenas "love is a real thing" mais embelezada. Os traços musicas desse cd são peculiares, pois há repetições de frases não identificadas, solos brilhantes de metais, e uma ênfase no teclado, dando uma encrementada no som. Esse CD inova em certos conteudos ligados a música, como uma exploração feita pelos produtores em criar solos musicais com diferentes instrumentos. Em algumas músicas você ouvirá apenas um xilofone, em outro um saxofone, entre outros instrumentos. Enfim, há uma grande variedade nesse estilo funk. A capa também é de ficar maravilhado. Espero que vocês curtem um som um tanto quanto exótico, meu camaradas.

Tracklist:
1.Minsato Le, Mi Deyihome
2.Love's A Real Thing
3.Keleya
4.Ceddo End Title
5.Porry
6.Guajira Van
7.Better Change Your Mind
8.Allah Wakbarr
9.Awon-Ojise-Oluwa
10.Zinabu
11.Ifa
12.Sanjina

Link nos comments, my gentlemans

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Patife Band - Patife Band (1985)

A Patife Band é um conjunto formado nos meados dos anos oitenta, no movimento da Vanguarda Paulista. Naquela época Paulo Barnabé, que compunha e trabalhava seu irmão Arrigo Barnabé, resolveu levar à sua musica suas peculiaridades, criando algo mais solo.
Em 1985, saiu o primeiro disco da banda, denominado “Patife Band”. Este, lançado pelo selo Lira Paulistana, deu o tom de como seria a carreira da Patife Band: Irreverente. Contava com apenas seis faixas, mas todas completíssimas. Em duas delas, há uma reinterpretação de duas populares músicas: “Noite Feliz” e “Tijolinho”, de Wagner Benatti. Esta foi a que mais difundiu a banda, talvez pela eximia reinterpretação. Cá entre nós, não há quem não tenha ouvido “Noite Feliz”, e o contraste do que seria popular criado pela Patife Band é inigualável. Três outras faixas (“Pregador Maldito”, “Pesadelo” e “Tô Tenso”) foram regravadas depois no segundo disco da banda, o “Corredor Polonês”. “Peiote” (nome de droga alucinógena "pesada") é, muito provavelmente, o delírio-digo-faixa mais peculiar do álbum: tem a cara das composições de Arrigo Barnabé, e ainda é efetuada em piano e voz.
A Patife Band ainda está na ativa, mantendo apenas Paulo da formação “original”.

Faixas:
01. Tijolinho
02. Pregador Maldito
03. Pesadelo
04. Tô Tenso
05. Noite Feliz
06. Peiote

Tratar o linque com o comentário.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Trainspotting Soundtrack (1996 - 1997)


Sabe-se avaliar a realização de um filme através de diversos elementos além de seu roteiro, atores e cenas e, particularmente, um dos fatores essenciais de um filme é conjuntura com composições, que “sem querer”, acabam interferindo na história sem a necessidade de falas ou grandes movimentos.
Podemos perceber esta união na trilha sonora de Trainspotting no momento em que Lou Reed empresta “Perfect Day” para a tradicional cena de overdose de filmes underground (no caso junkie). O filme inteiro goza deste universo onde os personagens quase que louvam o pico, sendo essa cena em particular tão irônica quando o resto do filme, durante a combinação da música e do momento em que Mark Renton, tão afundado em sua overdose é absolvido pelo chão enquanto ouvimos a melodia calma e melancólica sobre um dia perfeito, onde todos os problemas sumiram (obviamente, no caso de Renton por conta de sua overdose).

Além de ser uma trilha repleta de nomes undergound’s para a época (como Iggy Pop, Joy Division, David Bowie e etc), o filme não conta apenas com o Britpop e Rock para dar sentido ao filme, podemos notar a participação forte da música eletrônica, principalmente na última cena do filme, coma excelente faixa Born Slippy.NUXX.

A influência da musica é tão visível neste filme que podemos notar que o próprio roteiro e personagens foram inspirados em cantores da época, como o próprio Lou Reed (também um “adorador” da heroína e citado em uma das cenas), mas também pelo fato da trilha constituir duas versões, sendo a segunda repleta de musicas diferentes do primeiro cd, onde Danny Boyle fez questão de preencher com faixas que o inspiraram e ajudaram a criar sua obra.

Com certeza Trainspotting soube abusar do elemento musical em favor de si, no momento que deixa as próprias melodias interagirem tão sublimemente que passam a contar a história de uma época, tanto quanto os personagens.

Faixas

Trainspotting: Music from the Motion Picture

1. Lust for Life - Iggy Pop
2. Deep Blue Day - Brian Eno
3. Trainspotting - Primal Scream
4. Atomic - Sleeper
5. Temptation -New Order
6. Nightclubbing - Iggy Pop
7. Sing -Blur
8. Perfect Day - Lou Reed
9. Mile End - Pulp
10. For What You Dream Of (full-on Renaissance Mix) - Bedrock (feat. KYO)
11. 2:1 - Elastica
12. A Final Hit - Leftfield
13. Born Slippy. NUXX - Underworld
14. Closet Romantic - Damon Albarn

Trainspotting #2: Music from the Motion Picture, Vol. #2

1. Choose Life - PF Project
2.The Passenger - Iggy Pop
3. Dark & Long (Dark Train) - Underworld
4. Carmen Suite No.2 - Georges Bizet
5.Statuesque - Sleeper
6. Golden Years - David Bowie
7. Think about the Way - Ice MC
8. A Final Hit - Leftfield
9. Temptation - Iggy Pop
10. Nightclubbing (Baby Doc Remix) - Fun Boy Three
11. Our Lips Are Sealed - Primal Scream
12. Come Together - Joy Division
13. Atmosphere - Goldie
14. Inner City Life
15. Born Slippy. NUXX (Darren Price Mix) - Underworld

Link nos comentários.

Blue Cheer - Vincebus Eruptum (1968)

http://www.angryhippy.net/images/Blue_Cheer_-_Vincebus_Eruptum.jpg

Enquanto em 1967 os hippies faziam amor e música, um power trio chamado Blue Cheer, baseado em San Fran tirou seu nome d'um tipo de LSD das ruas de lá e preparava e gravava o seu primeiro LP, inaugurando uma era de som no talo, guitarras sujas e riffs. Lançado em janeiro de 1968, Vincebus Eruptum possuí seis músicas, três de autoria própria e aproximadamente meia hora de uma sonzeira forte e dificil de ser classificada naquele tempo: eram os principios do punk e do rock mais pesado.

O disco vai direto ao assunto,rude e poderosamente abrindo com a sua ameaçadora e excelente versão de “Summertime Blues”. A versão de “Rock Me Baby” é suave para os padrões da banda, um pouco mais limpa, sem tanta saturação e efeitos. “Doctor Please” é uma das melhores do disco - uma bad trip de Peterson sobre sua relação com as drogas .A guitarra começa um solo longo,no início mais limpo, porém uma hora ele relembra sua tarefa e engata uma quinta, mandando uma montanha de feedback.

Já em “Out Of Focus” a voz blueseira de Peterson dá o tom, e o ritmo de bad trip continua.O Blue Cheer pega toda a tranquilidade de Parchment Farm e joga no lixo, enfiando uma saturação com um fuzz do caralho. Em "Second Time Around" há também um merecido solo de bateria depois da tanta ralação em todas as faixas, com um destaque para o baixo sólido e incrivelmente limpo antes de outra enlouquecedora trip sonora de feedback e sujeira que acaba o disco em tão alto nível – literalmente- como começou.

Neste disco , com um ritmo forte e sonzera suja, é impossível de não perceber a onda nua e crua que vinha se preparando e que surgiria nos anos seguintes, riffs que prenunciavam o punk e hard que estava se preparando ( em 1969 sai um dos marcos do Hard Rock, o Led II), com uma bateria incessante e um baixo e voz que coordenavam toda essa zona. Porém é bem visível a influência hippie, blues e country, seja pelas letras ou escolha de música.

Esses pais do roque pesado e de ritmos mais fortes são a ressaca do hippie e suas idéias. São o lado B daquela era, que já se acabava, escarambalhada pelos ácidos e erva e tantas outras substâncias. Já estavam cansados de amor, queriam mais é tocar mais alto que qualquer coisa, porra.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

The Beau Brummels - Introducing The Beau Brummels (1965)


The Beau Brummels nasceu em São Francisco, Califórnia, antes mesmo de a cidade dar a luz a Jefferson Airplane, Grateful Dead, Steve Miller etc. A banda foi concebida quando o vocalista Sal Valentino e o guitarrista Ron Elliot juntaram forças. A eles se uniram o baterista John Petersen, o outro guitarrista Declan Mulligan e o baixista Ron Meagher.
Foram então descobertos pela Autumn (de onde saíram Grace Slick and The Great Society, The mojo men, entre outros) e fizeram grande sucesso com as músicas “Laugh Laugh” e “Just a Little”. Pouco tempo depois gravaram seu primeiro LP, o Introducing The Beau Brummels.
O disco contém 12 lindas músicas bem estilo country-rock, mas como em todas as obras desses caras, há uma forte influência do rock psicodélico da época, do blues e até do hard-rock. Lembra muito Buffalo Springfield e Byrds. Sem sombra de dúvida, o destaque desse LP é a voz do vocalista, sempre forte e afinada, e as táticas de vocalização dos guitarristas ao estilo Beatles.
Mas nem tudo é alegria. Ron Meagher havia deixado o grupo e o segundo disco (Volume 2) tinha sido lançado. Após um jubiloso período de sucesso o grupo teve duas surpresas: Ron Elliot descobriu que sofria de diabetes e os Belos descobriram que tinham sido vendidos à poderosa Warner. Veio então uma avalanche de desprazeres: a banda decidiu não realizar mais shows e depois do lançamento do disco Triangle, em 1967, que não rendeu grande vendagem, a banda ficou reduzida a dupla Valentino e Elliot. Um ano depois foi lançado o disco Bradley’s Barn e a banda finalmente chegou ao fim.
É uma pena que a banda que os Estados Unidos acreditavam poder competir com os Beatles tenha se perdido no tempo. Tão genial quanto desconhecida, a Beau Brummels definitivamente está entre uma das mais preciosas pérolas dos anos 60.

Faixas:
1.Laugh, Laugh
2.Still In Love With You Baby
3.Just A Little
4.Just Wait And See
5.Oh Lonesome Me
6.Ain't That Loving You Baby
7.Stick Like Glue
8.They'll Make You Cry
9.That's If You Want Me To
10.I Want More Loving
11.I Would Be Happy
12.Not Too Long Ago
13.Just A Little (Unissued Demo Version)
14.Good Time Music (Autumn Single)

Como vocês já estão carecas de saber, o link está nos comentários.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Grupo Rumo - Caprichoso (1985)




"Nascido em 74 com uma história singular/Levava a bandeira de ser um grupo novo/Já tinha uma biografia razoável/O tempo passava e o grupo continuava novo/É singular/(Em que ano que foi?)//Por volta de 77 uma dica despertou/Um grande interesse pelos precursores/E foi um tal de ouvir 78 rpm/E foi uma mania de Noel e Lamartine/Um porre de música antiga todo dia/Que alegria! Que alegria!/E quando acabava o dinheiro/Daquele jeito que nem pro consumo/Um dizia: "eu arrumo"/(E ficou RUMO)//". 
O trecho faz parte da última faixa desse disco, Release, composta por Luiz Tatit e retratando melhor do que ninguém a trajetória do Grupo Rumo, que ao lançar seu quarto álbum, já tinha onze anos de existência. 
Caprichoso foi lançado em 1985, e é um disco mais animado do que os anteriores do grupo, e com presença mais forte dos instrumentos (como guitarra, bateria, sax, flautas e cavaquinho). Desde o início o ritmo é mais agitado, com a introdução instrumental dramática de Delíro, meu! que Ná Ozzetti canta, e dessa maneira se mantém ao longo das outras músicas. Nessa primeira faixa, com direito a gritos e ovações dos próprios músicos, a letra fala de um rapaz "com uma voz enorme" por quem seus fãs deliravam, e a relação entre o público e o apresentador acompanha várias canções. Porém, o álbum não perde a cara do Rumo, e continua com letras descontraídas nas quais a interpretação dos músicos é cuidadosa, e beira ao teatro.
Esse é o último disco com a formação original do Rumo. Depois dele, a pianista Ciça Tuccori saiu, e entraram os músicos Ricardo Breim e  Fábio Tagliaferri, que se mantiveram nos dois álbuns seguintes: o infantil Quero Passear (com selo da Palavra Cantada, co-criado pelo integrante do grupo Paulo Tatit) e Rumo Ao Vivo. Diferente do que o grupo prevê no final da letra de Release, nem depois de trinta anos da criação do Rumo suas músicas enfeitaram a programação das rádios, e eles se desfizaram muito antes disso, em 1991. Mas sua discografia vale a pena ser escutada, e Caprichoso talvez seja sua melhor produção. 

Faixas:
1. Delírio, meu!
2. Esperança Ribeiro
3. Vrum
4. Revelações
5. Noite inteira com você
6. O apito
7. Salve a vítima
8. Caprichoso
9. Sombra
10. Bem alto
11. 1800 e pouco
12. No decorrer da madrugada
13. Olhando a paisagem
14. Release

Link nos comentários.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Steve Reich - Drumming (1970)


Já faz um bom tempo que certos músicos criticam o termo “minimalismo” em relação a certas obras musicais. A razão é que esse termo demonstra relação entre o minimalismo das artes plásticas e a música minimalista, que são, na maioria das vezes, distintos.
A música minimalista é o conjunto de diversos trechos musicais dispostos de maneira repetitiva, mas não monótona. A falta de monotonia é explicada por pequenas divergências que caminham lentamente através das saturadas células musicais. Tais pequenas mudanças dão o movimento que o gênero propõe. Cria-se assim uma atmosfera hipnótica, carregada e repetitiva. Steve Reich é um compositor denominado “minimalista”, conjuntamente com Philip Glass, Alvo Part e Michael Nyman.
Steve, desde sua infância teve forte ligação à música, estudando percussão e pesquisando ritmos africanos. Aderiu ao movimento musical do minimalismo, e lá encontrou seu diferencial. Seja por suas tendências rítmicas ou estudos, a música que ele criou, e ainda cria, é única. Tem uma discografia imensa, que percorre mais de 40 anos de carreira. E cada álbum com sua inovação, obviamente.
Em 1970/71, Reich lançou “Drumming”, uma obra feita para bongos, marimbas, vozes femininas e flautim (instrumento da família flautífera cujo som é de uma oitava acima da flauta soprano). Nela, ao contrário de seus outros álbuns, ele mostra mescla seus conceitos “minimalistas” com seu estudo acerca de percussão e de ritmos africanos. A obra tem aproximadamente uma hora (a mais longa que Reich tinha feito até então) e é dividida em cinco partes. O resultado é uma obra única, algo como uma brincadeira eterna de ritmos e timbres, que se entrelaçam, soltam, aparecem, somem, crescem, se somam e perdem-se.
Uma experimentação com som que não é nem um pouco sonífera.

A obra é repartida em cinco partes: 1,2,3,4,5.

para ouvir, há link nos comentários.

Luiz Melodia - Pérola Negra (1973)


Luiz Carlos dos Santos é um nome comum em nossas terras brasileiras. Mas, dentre as dezenas de homônimos, um deles se destaca, e muito. Carioca, filho do sambista Oswaldo Melodia, residente do morro de São Carlos, bairro do Estácio. Romântico, poeta, sofredor, animado. Esse é o nosso querido Luiz Melodia, dono de uma das mais marcantes vozes negras da música popular brasileira.
Começou sua carreira em 1964, sem muito sucesso, com a banda Os Instantâneos. Suas composições, porém, eram reconhecidas por nomes fortes da MPB, como Jards Macalé, que, em 1972 fez uma versão de "Farrapo Humano" (Melodia depois retribuiria o favor, gravando "Mal Secreto" alguns anos mais tarde). Em 1973, com o término da banda, Luiz Carlos se lançou em carreira solo com "Pérola Negra", disco de belas e originais melodias próprias. A capa mostrava o músico em estado de choque em meio a uma feijoada, uma verdadeira Pérola Negra. Pode não ser um trocadilho muito modesto, mas o som presta. E muito.
"Estácio, Holly Estácio" e "Estácio, Eu e Você" são duas suaves baladas escritas em homenagem ao bairro de Melodia. Calmas, aconchegantes e belas, se destacam (aliás, o disco inteiro se destaca dos demais já produzidos até então) pelo timbre e pelo tom da voz do cantor. Sem falar que as letras são uma delícia!
A faixa-título é uma canção amorosa em tom sofredor regada por metais finos e agradáveis, em não-tão-contraste com o bilhete suicida "Farrapo Humano" e com o roquenrou agitado "Pra Aquietar" (que, recentemente, pintou na setlist de alguns shows do grupo Garotas Suecas, por sinal). Por fim, gostaria de destacar ainda o "Forró de Janeiro", faixa mais inusitada do disco, que encerra essa bela obra numa levada meio Jackson do Pandeiro, com direito a participação de Damião Experiença ao fundo (!!!!!!).
Pérola pouco reconhecida da música brasileira, esse disco merece toda a atenção que o ouvinte puder dar. Luiz Melodia, tanto como compositor como quanto cantor, consegue agradar a vários gostos distintos. Se você ainda não se deu ao trabalho de ouví-lo faça-o já!

Faixas:
1. Estácio, Eu e Você
2. Vale Quanto Pesa
3. Estácio, Holly Estácio
4. Pra Aquietar
5. Abundantemente Morte
6. Pérola Negra
7. Magrelinha
8. Farrapo Humano
9. Objeto H
10. Forró de Janeiro

Baixe essa pérola pelo link nos comentários!

Secos & Molhados - Secos & Molhados (1973)


O Brasil vivia os anos de chumbo, a censura trabalhava com eficácia e a repressão era certeira e violenta. Daí chegam uns homens quase travestidos, com rostos pintados e letras provocantes e começam a cantar por aí. Esses são os corajosos Secos & Molhados.
João Ricardo foi o mentor da banda. A formação inicial incluía Pitoco e Fred, que logo saíram do grupo. João conhece Ney Matogrosso (Ney de Souza Pereira) que acaba virando o vocalista. A eles se juntaram Gripa (flautista), John (guitarrista), Marcelo (baterista) e Willy (baixista). Três meses após esta formação estar estabelecida foi gravado o LP. Foi um sucesso, vendeu mais de um milhão de cópias e até a capa foi premiada.
O disco é musica brasileira com um toque de rock and roll. Zé Rodrix tem participação em algumas músicas e várias composições de João Ricardo contam com a colaboração de Manuel Bandeira, Vinicius de Moraes, Paulinho Mendonça, entre outros. Todas as músicas são muito boas, é difícil escolher só uma. A primeira faixa é “Sangue Latino”, uma poesia musicada na forma de balada em tom de ré. A segunda é por todos conhecida, “O Vira”, virou patrimônio histórico brasileiro. “Primavera nos Dentes” e “Assim Assado” evidenciam a crítica do grupo a ditadura militar. A primeira é um blues com uma bela letra que defende a liberdade e glorifica a luta contra o sistema. “Assim Assado” conta a historia de um velhinho que encontra o Guarda Belo (personagem do desenho Manda-Chuva) que não gosta da cor do velho e resolve matá-lo, pois não acredita na tal cor. E a cor, meus caros, é o vermelho. Por ultimo devo citar “Rosa de Hiroshima”, na minha opinião uma das mais bonitas musicas brasileiras, uma súplica pela paz.
Há quem diga que o grupo se inspirou nos Dzi Croquettes, há quem jure de pés juntos que a banda estadunidense Kiss na verdade imitou os Secos & Molhados, e não só nas pinturas no rosto. Sendo isso verdade ou apenas uma suposição maluca, o grupo foi muito importante politicamente e representou muito bem o movimento artístico de resistência à ditadura, balançando os alicerces do direitismo.

Faixas: 1. "Sangue Latino" (João Ricardo/Paulinho Mendonça)
2. "O Vira" (J. Ricardo/Luli)
3. "O Patrão Nosso de Cada Dia" (J. Ricardo)
4. "Amor" (J. Ricardo/João Apolinário)
5. "Primavera nos Dentes" (J. Ricardo/J. Apolinário)
6. "Assim Assado" (J. Ricardo)
7. "Mulher Barriguda" (J. Ricardo/Solano Trindade)
8. "El Rey" (Gerson Conrad/J. Ricardo)
9. "Rosa de Hiroshima" (G. Conrad/Vinicius de Moraes)
10. "Prece Cósmica" (J. Ricardo/Cassiano Ricardo)
11. "Rondó do Capitão" (J. Ricardo/Manuel Bandeira)
12. "As Andorinhas" (João Ricardo/C. Ricardo)
13. "Fala" (J. Ricardo/Luli)


link nos comentários.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Damião Experiença - Chupando Cana Verde e Cheirando Alho no Planeta Lamma (19??)

Damião Ferreira da Cruz (ou Damião Experiença, como é conhecido hoje nas redondezas de Ipanema, no Rio de Janeiro) nasceu na Bahia em 1935, indo morar na cidade maravilhosa aos 13 anos, após fugir de casa. Ainda cedo se alistou na marinha, onde ganhou, nas suas próprias palavras, "experiência da vida e educação". Trabalhou como marinheiro até os 25 anos, quando bateu a cabeça em um radar que estava operando e, segundo a lenda, teve uma revelação sobre a verdade do universo, fazendo contato com o Planeta Lamma. O acidente lhe rendeu também uma aposentadoria precoce, o que permitiu que Damião se envolvesse com a cafetinagem, conseguindo dinheiro para gravar seus discos.
Planeta Lamma, o primeiro disco de Damião Experiença, foi feito em 1974. Em seguida, vieram inúmeros outros - algo em torno de uns 34, mas é impossível afirmar com certeza. Devido a produção completamente independente e da má-organização (leia-se 'insanidade') do artista, todas as informações relativas a sua discografia são nebulosas. Portanto, não tenho como especificar a data deste álbum, Chupando Cana Verde e Cheirando Alho no Planeta Lamma (que inclusive aparece em algumas listas, como sendo dois discos diferentes). Mas isso é o de menos. O negócio aqui é a música.
...se é que se pode chamar isso de música. Afinal, o próprio Damião definiu seu som como 'loucura', e não música. Bom, isso deixo a você, ouvinte, julgar. O que posso garantir com certeza é que a obra de Damião Experiênça é diferente de quase tudo que existe na música brasileira. Em Chupando Cana Verde e Cheirando Alho no Planeta Lamma, o artista canta no dialeto do Planeta Lamma (que só ele entende), toca gaita e bate em seu violão de 3 cordas com um chocalho amarrado na ponta. Tudo isso gravado por cima de uma base de rock clássico, em duas faixas de 18 minutos cada uma.
Talvez o melhor momento do álbum seja os dois minutos finais de ambas, em que Damião canta em português, revelando seu lado mais 'politizado'. O melhor exemplo está em Ritmo Linguagem Planeta Lamma, em que Damião sonha com o encontro de seus ídolos: "Volta Getúlio Vargas/Pra se encontra com Fidel Castro/Homem democrático da América Central". Contraditório? Pois é.
Enfim... Aqui está mais um disco desse mendigo-rastafari-maluco-cafetão-psicodélico que vive até hoje pelas ruas do Rio de Janeiro. Hamalai!

Faixas:
1. Concerto Isabellita Planeta Lamma
2. Ritmo Linguagem Planeta Lamma

O link pra download tá nos comentários (link in comments).

Arrigo Barnabé e Banda Sabor de Veneno - Clara Crocodilo (1980)

Muitas vezes, a dodecafonia é vista sob uma névoa preconceituosa. Tem-se que ouvir para conceituar. Compositor partidário da dodecafonia, Arrigo Barnabé mostra o quão versátil pode ser essa técnica.
Arrigo é adepto da dodecafonia, e talvez do atonalismo, mas não é apenas disso. Em sua carreira, trabalhou com musica brasileira, tocando em ritmo de bossa nova. Discos como “Suspeito” ou “Façanhas” apresentam tais trabalhos. Barnabé criou, e ainda cria, uma língua musical para lá de inovadora.
Arrigo é participante do movimento cultural da vanguarda paulista, e teve, provavelmente, o auge de seu trabalho no teatro Lira Paulistana, em São Paulo. Teve seu momento de maior reconhecimento em 1980, com a obra “Clara Crocodilo”, contando uma saga única e inesperada, com gente virando monstro e essas coisas. Esse trabalho foi gravado conjuntamente com a Banda Sabor de Veneno e tem dois fatores atenuantes propiciaram o sucesso: as letras e a musicalidade. Quanto as letras, são originalíssimas, contando historietas repletas de casos tensos, irônicos, divertidos, depende do gosto do freguês. Quanto à musicalidade, temos, como característica, a apropriada tensão criada pelo dodecafonismo muito bem encadeada com as letras.
Uma coisa que acontece certas vezes com músicos que se apropriam de técnicas sofisticadas é a falta de particularidade de cada música. Com Arrigo, ele cria cada uma e cria o todo. Faixas como “Diversões Eletrônicas”, “Office-Boy” ou “Clara Crocodilo” são composições que primam pela falta de repetição e por um fabuloso elo entre letra e som. E que som.

Faixas:
01 Acapulco drive-in
02 Orgasmo total
03 Diversões eletrônicas
04 Sabor de veneno
05 Infortúnio
06 Office-boy
07 Clara Crocodilo
08 Instante

ouvi dizer que tem um link nos comentários desse post.

sábado, 16 de janeiro de 2010

The Sonics - Boom (1966)

A banda é originária de uma garagem em Tacoma, nos Estados Unidos. Seu som era devastador, mais pesado e mais brutal do que qualquer um de seus contemporâneos. Ela passou por diversas formações, ficando afinal como quinteto: O pianista e vocalista Gerry Roslie era uma versão mais demente e mais pálida de Little Richard. Os irmãos Andy Parypa e Larry Parypa eram encarregados respectivamente da guitarra e do baixo, Rob Lind do órgão e do saxofone e Bob Bennett era o excelente baterista.
The Sonics é considerada uma das primeiras bandas punk, ou uma importante representante do que chamamos de movimento “Proto-Punk”. (como diria o coleguinha caio, se você ainda acha que o Punk aconteceu em 77, saiba que está terrivelmente enganado. Dez anos antes, enquanto os Beatles cantavam "I Wanna Hold Your Hand" e "All You Need Is Love", bandas americanas como os Sonics e os Standells distorciam suas guitarras, furavam os amplificadores e liberavam toda a sua energia nos vocais, fazendo um som que mais parecia com o Rock & Roll dos anos 50, porém com a força da década 60.)
O disco Boom foi gravado de uma maneira barata e simples, com apenas um microfone para a bateria que, por sinal, é estonteante. (Incrível é pouco). Os Sonics tiraram todas as caixinhas de ovos que usavam na parede do estúdio, aumentaram ao máximo os amplificadores e até fizeram buracos com um picador de gelo nos alto-falantes. O resultado de toda essa loucura é o som agressivo e distorcido que mais parecia um trem descontrolado.
Todas as faixas são muito boas, desde “Skinny Minnie”, “Louie, Louie” e “Jenny, Jenny”, que são uma mistura dos padrões daquele antigo rock de 50, até “Psycho” e “The Witch”, com temas mais assustadores e um som mais violento. Alias, a ultima aqui citada foi proibida de ser tocada ANTES das dez horas da noite, para não ser ouvida pelas crianças. Mesmo assim, a musica foi numero um nas paradas das rádios locais.
The Sonics é uma importante representante das bandas de garagem dos anos 60, do rock marginal e do movimento punk. Ela inspirou o surgimento de diversas bandas mais agressivas, como MC5 e The Stooges e influenciou muitas mais, como Iggy Pop, New York Dolls, Nirvana e semelhantes.


Faixas:
1. Cinderella
2. Don't Be Afraid of the Dark
3. Skinny Minnie
4. Let the Good Times Roll
5. Don't You Just Know It
6. Jenny, Jenny 7. He's Waitin'
8. Louie, Louie
9. Since I Fell for You
10. Hitch Hike
11. It's All Right
12. Shot Down
13. Hustle
14. Witch (Alternate Take)
15. Psycho (Live)
16. Witch (Live)

Mais uma vez, link nos comentários.

Joelho de Porco - São Paulo 1554-Hoje (1976)

Lançado em 1976, São Paulo 1554-Hoje é o primeiro LP do Joelho de Porco. Consagrou a banda, que já era conhecida por seus shows hilários e um compacto simples de três anos antes, como a pioneira do estilo roqueiro bem-humorado que nos anos 80 seria adotado por vários outros grupos, como o Língua de Trapo.
Anárquico, unindo o deboche com um rock meio pesado, este disco é, do começo ao fim, pura tiração de sarro. Traz músicas que se tornaram clássicos do Joelho, como Mardito Fiapo de Manga e a 'caliente' México Lindo, que mistura o português com um vocabulário manjado de espanhol. Aeroporto de Congonhas, puro punk-rock, é a 'triste comédia da família paulistana', que, não tendo praia, passa todos os domingos no aeroporto pra ver avião descendo e subindo. Aviação também é tema da bem-embalada Boeing 723897, talvez uma das melhores músicas que a banda gravou em toda carreira. Cruzei Meus Braços... Fui Um Palhaço, A Lâmpada de Edison e a sensacional Debaixo Das Palmeiras aproveitam o clima dramático criado pelas músicas pra esculachar em letras absurdas. Por fim, ainda é preciso mencionar São Paulo By Day, conhecida equivocadamente também pelo nome de 'Trombadinha', quase uma música-tema do Joelho de Porco para a metrópole paulista.
São Paulo 1554-Hoje é, sem sombra de dúvidas, um álbum fantástico. Após seu lançamento, o vocalista e baterista Próspero Albanese se afastou da banda, sendo substituído pelo ator Ricardo Petraglia, com quem o Joelho chegou a se apresentar em alguns shows. Entretanto, este logo abandonou o conjunto, tendo seu lugar tomado pelo argentino Billy Bond. Com Billy, o Joelho de Porco embarcaria numa fase mais agressiva, gravando mais um álbum, homônimo, em 1978 e se dissolvendo no ano seguinte. A banda se reuniu novamente em 1983 para gravar o clássico LP Saqueando A Cidade, cujo nome tomamos emprestado para batizar este blog.

Faixas:
1. Hey Gordão
2. Boeing 723897
3. Mardito Fiapo de Manga
4. Cruzei Meus Braços... Fui Um Palhaço
5. Debaixo das Palmeiras
6. México Lindo
7. Aeroporto de Congonhas
8. São Paulo By Day
9. A Lâmpada de Edison
10. Meus Vinte e Seis Anos

Faça o download de "São Paulo 1554-Hoje" pelo link nos comentários.

Virgulóides - Virgulóides? (1997)

No meio da década de 90, alguns sujeitos da zona sul de São Paulo se juntaram e criaram uma banda humorística o Virgulóides. O nome é devido a uma fusão do desenho Herculóides com o personagem de Virgulino (Lampião). A banda uma formação simples, que além de guitarra/violão, baixo e bateria, incluía percussão e cavaquinho. Olha, isso já diz um tico de como era o som dos caras: uma argamassa de diversos ritmos. Seriam esses, principalmente, rock, samba, pagode e axé. Majoritariamente samba e rock.
Muitas vezes, queixa-se que em sambas e relativos, a música diverge pouco entre si. Mas garanto, criatividade é o que não falta. A mistura que a banda criou gerou uma originalidade para cada momento. Nos arranjos das faixas, que acredito ser dos músicos, há um encaixe primoroso para o que eles querem passar. Em músicas como “Dum Dum”, percebe-se um elemento interessante que bem caracteriza a banda: a entrada de instrumentos típicos de rock no samba com cavaquinho.
Agora, o que realmente dá o diferencial dos Virgulóides são as letras. Apologéticas, talvez. Pornográficas, talvez. Sarcásticas, com certeza. O humor é o forte dos caras, seja na inventividade das letras, criando historinhas geniais, no tom de brincadeira do vocalista, ou até mesmo na musicalidade dos caras. A faixa que mais pegou foi “Bagulho no Bumba”, mas, para ouvir direito os caras, sugiro o disco todo: Ele inteiro tem um humor fluente, recomendável, mas não para todas idades. Não é como outros músicos que você pode representar por algumas faixas.
Esse disco aqui é salada com tinta e feijão. Uma mistureba só. Vale a viagem.

Faixas:
1 - Bagulho no Bumba
2 - House da Madame
3 - Zoião de Sapo-Boi
4 - Festa na Dona teta
5 - Médico Safado
6 - Sebunda-feira
7 - Dum Dum
8 - Salve o Cabra-Macho
9 - Nego Velho (O Mano Véio)
10 - Raimunda
11 - Qué Picá

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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Pink Floyd & Frank Zappa - Interstellar Zappadrive (1969)


Esta obra prima gravada pelo Pink Floyd junto ao talentoso Zappa em uma faixa exclusiva (Interstellar Overdrive) foi feita em 1969, em Berlin. Sua genialidade foi explorada com sucesso pelos integrantes do Floyd, e não há nada igual como fundir duas mentes brilhantes da guitarra, de David Gilmour e Zappa. Acompanhado de Mason na percursao e de Rick Wright no teclado com seus efeitos unicos, e não deixando de ressaltar a genilidade da composicao do Roger, este CD ao vivo possui elementos únicos e brilhantes que fazem o publico delirar. Há apenas um unico problema de gravação neste album, por ser ao vivo. Mas você esquecera disso enquanto estiver ouvindo o disco. Alem disso, o grupo inclui as faixas mais conhecidas na obra, como "Saurceful of Secrets", "Set The Controls For the Heart of The Sun" entre outras famosas da época psicodelica de e pós-Syd Barrett. O disco contem faixas especiais no final do disco, alem de outras fundamentais para se entreter com o CD, como "Tuning Up", na qual o ouvinte pode escutar os integrantes verificando o som antes do aparecimento de Zappa.

Faixas:
1. Astronomy Domine
2. Green Is The Colour
3. Careful With That Axe Eugene
4. Tuning Up With Zappa
5. Interstellar Overdrive (Feat. Zappa)
6. Tuning Up
7. Set The Controls For The Of The Sun
8. A Saucerful Of Secrets
9. Green Is The Colour (SBD)
10. Careful With That Axe Eugene (SBD)
11. Set The Controls (SBD)

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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Joe Strummer - Walker (1987)

Joe Strummer, ao contrário do que muitos pensam, não é inglês. Muito pelo contrário! Joe Graham Mellor nasceu em Ankara, na Turquia e passou por muitos perrengues antes de virar o vocalista e guitarrista do Clash. Aliás, foram os Sex Pistols que fizeram com que Joe formasse o Clash e ajudasse a consolidar o estilo punk. Isso mesmo, caro leitor. Foi durante um show de abertura dos Pistols para a sua banda, o 101'ers que nosso bom e velho turco se impressionou com a atitude daqueles ingleses irreverentes e mudou a música para sempre.
Mas isso é o menos importante dessa história toda. Acontece que, logo após o Clash se dissolver, todos os seus membros se sentiram deveras desnorteados. Strummer, por sua vez, procurou continuar com uma carreira artística séria e consolidada, mas só conseguiu o devido reconhecimento ao formar o The Mescaleros na década de 90 e inovar mais uma vez com um estilo musical único. Nesse meio tempo, atuou em filmes B, compôs trilhas sonoras e gravou discos obscuros e, hoje em dia, raríssimos.
Walker, lançado em 1987, é um resumo de todos os itens supracitados. Strummer compôs o score do filme homônimo para o diretor Alex Cox, atuou como o coadjuvante Faucet e ainda tocou e cantou em todas as músicas do álbum. O resultado é super bacana, principalmente por se tratar de um disco de música latina (o filme é sobre uma revolução no Nicarágua). Logo, todos os tipos de ritmos quentes estão cá presentes, fazendo com que o ouvinte consiga se sentir ao mesmo tempo num árido deserto mexicano e numa festa caribenha de luxo.
Exótico, o álbum se destaca do resto da discografia de Strummer primeiramente por ser predominantemente instrumental - com exceções, é claro. Temos a empolgante "The Unknown Immortal", a balada country "Tenessee Rain" e a bela "Tropic Of No Return" mostrando o vozeirão do velho Joe a todo vapor - e também por incorporar esse fervor latino delicioso. "Filibustero" te leva direto às Bahamas, enquanto "Sandstorm" lembra muito aqueles temas de filmes de faroeste. Merecem destaque ainda "The Brooding Side Of Madness", uma música de título auto-explicativo (insana e aconchegante), "Nica Libre" (balanço numa levada meio cubana à Buena Vista Social Club) e, é claro, "Machete", melodia tensa, com linhas de baixo poderosas e violões acústicos com cordas de aço impecáveis.
Enfim, é uma sonzeira diferente, quente e agradável de se ouvir. Recomendadíssimo. Arriba!

Faixas:
1. Filibustero
2. Omotepe
3. Sandstorm
4. Machete
5. Viperland
6. Nica Libre
7. Latin Romance
8. The Unknown Immortal
9. Musket Waltz
10. The Brooding Side Of Madness
11. Tenessee Rain
12. Smash Everything
13. Tropic Of No Return
14. Tropic Of Pico

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Grupo Rumo - Diletantismo (1983)



Em 1974, alguns anos antes do início do movimento cultural vanguarda paulista, dez estudantes da Escola de Comunicação e Artes da USP se juntaram para formar o Grupo Rumo. Como eles mesmos explicitam no termo que dá título ao álbum, eram apaixonados por música que se dedicavam à ela por prazer, e tal qual outros grupos da mesma cena, chegaram a gravar pelo selo que o teatro Lira Paulistana, na praça Benedito Calixto, criou - como é o caso de Diletantismo. Na formação original, a que está presente no disco em questão, alguns nomes ganharam relativa fama hoje em dia, mas os integrantes da época eram Ná Ozzeti, Luiz Tatit, Hélio Ziskind, Paulo Tatit, Pedro Mourão, Geraldo Leite, Akira Ueno, Ciça Tuccori, Gal Oppido e Zé Carlos Ribeiro, privilegiando a voz sobre as cordas, sopros e percussão. De fato, as letras compostas em sua maioria por Luiz Tatit tem um papel marcante no som produzido pelo Rumo, tanto pelo ar informal quanto pela poesia sem maneirismos que as canções trazem.
Algumas delas, por exemplo, são quase declamadas, como na décima primeira faixa Falta Alguma Coisa, em que Ná Ozzetti parece pensar alto sobre sua sensação de vazio, num momento antes de sair de casa para o trabalho. Mas logo depois da música tornar-se mais melodiosa, a faixa chega ao fim e dá lugar à agitada Sob o Domínio do Frevo, iniciada pela voz da cantora em diálogo com Geraldo Leite, encerrando de vez a reflexão solitária de Ná. Porém, todas as músicas tendem a aproximar o ouvinte do enredo, ou pelo cunho quase voyeurístico sobre uma cena (como Ladeira da Memória), ou pelo tom de conversação reforçado pelos cantores. Aliás, Ladeira da Memória talvez seja uma das faixas mais interessantes nesse disco pois, como em muitas letras do Rumo, ressalta cenários e passagens de São Paulo.
 Infelizmente, como aconteceu a vários produtos da vanguarda paulista, o sucesso do grupo não atingiu grande público, pela linha independente e experimental que não interessava a tantos ouvidos na época. Contudo, como o foco das suas experimentações é mais ligado ao destaque aos versos do que aos arranjos e melodias, as letras pedem aos ouvintes que as acompanhem, pois está aí a maior graça do Rumo. E em Diletantismo, boas histórias têm de sobra, cantadas por estudantes que desde a formação da banda já eram pra lá de ótimos músicos.

Faixas:
1. A banda de cá e o bando de lá
2. Ladeira da Memória
3. Saudade Moderna
4. Aceita a Serenata
5. Sorriso
6. Hora da Vida
7. Início
8. O que é que você fazia
9. Fundação da Cidade
10. Diletantismo
11. Falta Alguma Coisa
12. Sob o Domínio do Frevo
13. Mesmo Porque
14. Quem é?
15. Nego, nega

Vide comentários para link.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Spectrum - Geração Bendita (1971)

Produzido em 1970 por membros da comunidade hippie Quiabo's (situada em Nova Friburgo, RJ), "Geração Bendita - É Isso Aí Bicho" pretendia ser o 'primeiro filme hippie brasileiro'. A idéia inicial dos bichos-grilos era que o longa-metragem servisse para divulgar os ideais e o estilo de vida da comunidade. Entretanto, a obra enfrentou sérios problemas com a censura da época, que não só cortou mais de 40 minutos do original como proibiu sua exibição após a estréia. Só em 1973 que o filme conseguiu chegar nas telas do cinema, mas logo foi vetado novamente. Daí em diante, caiu no esquecimento, sendo redescoberto anos depois, até ganhar uma versão restaurada nos anos 2000.
Um ponto interessante dessa história toda é que um dos motivos pelo qual o filme continuou sendo lembrado ao longo do resto do século XX é o de que sua trilha sonora, composta por canções originais da banda Spectrum, tornou-se um álbum disputadíssimo por colecionadores de discos raros, chegando a ser vendido na Europa por até 2 mil dólares.
Numa pegada à lá Beatles em "Magical Mystery Tour" (sim, tão ingênuas quanto) e Mutantes, as músicas do Spectrum unem guitarras distorcidas com a viola. As letras, transitando entre o português e o inglês, traduzem o espírito otimista da Geração Bendita ("A Paz, Amor, Você" é um exemplo claro). O álbum traz também faixas quase inteiramente instrumentais, como "Tema de Amor" (que praticamente resume o tom do disco inteiro) e o fantástico "Concerto do Pântano". "15 Years Old" é diferente de todo o resto: um rockzão eletrizante com um vocal que remete ao de Grace Slick.
Bom, então aqui está a trilha sonora de Geração Bendita. Não é um dos meus discos preferidos, mas é interessante. Vale a pena dar uma ouvida, pelo menos pelo significado histórico da coisa, afinal é o primeiro, e talvez o único, 'filme hippie brasileiro'.
(Para assistir ao trailer do filme no youtube, clique aqui)

Faixas:
1. Quiabo's
2. Mother Nature
3. Trilha Antiga
4. Mary You Are
5. Maria Imaculada
6. Concerto do Pântano
7. Pingo É Letra
8. 15 Years Old
9. Tema de Amor
10. Thank You My God
11. On My Mind
12. A Paz, Amor, Você

Baixe a trilha sonora de "Geração Bendita" pelo link nos comentários (link in comments).

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Jards Macalé - Jards Macalé Canta Moreira da Silva (2001)

Diz Moacyr Luz que, certo dia, ele e Jards Macalé esperavam por uma ponte aérea numa tarde chuvosa e entediante no Rio de Janeiro. Não havia muito o que fazer naquele monótono aeroporto, então Moacyr pediu a Jards, que usava um panamá que havia pertencido ao próprio Moreira da Silva, cantasse um samba de breque na sala de espera. Macalé se animou e, num salto, entoou "Rei do Gatilho", hit inconfundível do grande mestre. No exato momento em que o saguão do aeroporto ouve o clássico "CUIDADO, MOREIRA!!", um pensamento cruza a mente dos dois músicos como uma flecha. Se Kid Morengueira havia morrido no ano passado, por que não lhe gravar uma homenagem?
Jards Macalé Canta Moreira da Silva foi lançado no ano de 2001 e é mais que uma homenagem póstuma a um grande amigo. Trata-se de uma releitura cuidadosa e cheia de qualidade dos mais finos momentos da obra do mestre do samba, que, portanto, deve ser tratado com seriedade, mesmo sendo um homem dos mais simpáticos. O álbum abre com Macalé espancando seu violão numa escrachada versão da hilária "Acertei no Milhar", onde Etelvina não chama mais a Morengueira, e sim a Macalinhas. Em seguida, uma versão de encher os olhos d'água de "Piston de Gafieira" traz para o ambiente toda a descontração, requinte e elegância de um sambão da década de trinta.
Macalé fez-nos o favor de juntar as duas partes de "Amigo Urso" numa só, tanto a cobrança desesperada quanto a resposta desdenhosa. O ouvinte logo percebe que de nada adianta ir ao Pólo Norte para reclamar pelos seus bens financeiros quando o seu amigo é um pilantra. "Margarida" é uma música bem-humorada sobre um relacionamento encerrado e suas consequências para o desesperado amante. A seguir, uma ligeira surpresa: Zeca Baleiro aparece cantando junto de Macalé em "Na Subida do Morro", com direito ao hilariante assassinato em câmera lenta. Os problemas com a polícia eram muito recorrentes na época da malandragem, e "Olha o Padilha" mostra muito bem isso. "Rei do Gatilho" e "O Último dos Moicanos" são as duas mais consagradadas "produções cinematográficas" de Kid Morengueira, interpretadas com maestria pelo músico freak carioca, fato que, como já explicitado anteriormente, deu origem ao álbum.
"Choro Esdrúxulo" é uma música que se define pelo título. Rimas bizarras, pouco sentido e um fagote porreta fazem desta uma faixa interessante e agradável. "Samba Aristocrático", por sua vez, é uma tentativa do mestre do breque de atingir o olimpo da música, agradando à gringaiada com "prosódia, ortografia e etimologia nas suas radicais". "Moreira Na Ópera" é uma provocação do Kid aos Três Tenores, interpretada com graça por Macalévsky, que faz questão em enfatizar seu potencial de "dar baixo onde estiver agudo".
Por último neste texto mas não no disco, "Tira os Óculos e Recolhe o Homem", parceria entre Macalé e Morengueira. A música narra uma ocasião onde Jards fora preso pelo governo militar por cantar duas músicas além do previsto num festival no nordeste. Por sorte, o bom e velho Moreira estava no lugar certo na hora certa e tirou seu colega da enrascada, selando uma amizade duradoura e respeitosa.
É uma homenagem muito bem prestada, deliciosa de se ouvir e boa para descontrair.
Afinal, morre o mestre mas o breque continua! Macalé acertou no milhar!

Faixas:
1. Acertei no Milhar
2. Piston de Gafieira
3. Amigo Urso/A Resposta do Amigo Urso
4. Margarida
5. Na Subida do Morro
6. Olha O Padilha
7. O Rei do Gatilho
8. Choro Esdrúxulo
9. Samba Aristocrático
10. O Último dos Moicanos
11. Tira os Óculos e Recolhe o Homem
12. Moreira na Ópera

Link nos comentários, vargulinos!

Carmem Costa e Paulo Marquez - A Música de Paulo Vanzolini (1974)



Logo na contracapa do disco, Paulo Vanzolini anuncia: "Fazer um samba é um tanto uma questão de paciência". Ouvir os sambas que o compositor paulistano criou desde os anos 50 talvez não exija tanto, mas não há dúvidas de que suas letras requerem certa atenção a mais. Vanzolini, hoje em dia com 85 anos, é antes de tudo um zoólogo (ou "zoológico", como considerou seu amigo Adoniran Barbosa em uma entrevista), cientista "letrado" e dono de canções que representam o cotidiano boêmio da São Paulo de sua época - e que ainda dizem muito da identidade da cidade. Porém, várias de suas composições se esqueceram do autor no boca-a-boca popular, como o samba Volta Por Cima, que às vezes parece até ter um caráter de hino ("levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima"). Mas o compositor pontuou, em entrevista a Ricardo Dias para o filme musical Um Homem de Moral, que para ele o mais importante na letra é o que diz o verso anterior ao jargão: "reconhece a queda e não desanima". Assim, Vanzolini desenvolve histórias a partir de recortes urbanos, e não deixa de fora anedotas engraçadas sobre sujeitos comuns.
Na interpretação dos veteranos Carmem Costa e Paulo Marquez, o tom antigo e nostálgico é reforçado, diferentemente do que acontece na coletânea Acerto de Contas (também com composições de Vanzolini), em que a leitura das músicas é moderna, ou na maioria das gravações das canções do compositor. Não é para menos, pois Carmem Costa entrou para o mundo musical graças a Francisco Alves, de quem era empregada, e começou a fazer sucesso nos anos 40. Enquanto isso, o mineiro Paulo Marquez estourava em uma rádio de Belo Horizonte. Em suma, ambos são cantores dos dias do rádio, e o disco agrega isso de maneira inegável.
Contudo, outra característica é a criatividade das letras, como já foi dito. A primeira é Mulher que não dá samba, na qual o eu-lírico reclama da paz que vive com a esposa ao invés da "roupa limpa e o café quente", e preferiria que a mulher fosse "ignorante no claro e ardente no escuro". Mas em Maria que ninguém queria, a personagem feminina é o oposto da esposa submissa, e encarna uma Maria que, após ser "reformada" pelo companheiro, o abandona e só propõe reconciliação se apenas 50% da moça lhe pertencer. E na décima primeira faixa, Mulher toma juízo, o narrador chega à conclusão de que "mulher que se vira pro outro lado/ tá convocando a suplente/ mulher que não ri não precisa dente".
É raro alguma letra de Vanzolini escapar de versos inteligentes e histórias divertidas. Nesse disco, felizmente, além das letras há boas interpretações de grandes cantores menos lembrados do que deveriam, mas que - como o próprio compositor escreveu - produziram um trabalho cujo "autor sai de cena, e fica apenas torcendo para seu público gostar".

Faixas:
1. Mulher que não dá samba
2. Falta de mim
3. Inveja
4. Ronda
5. Samba Abstrato
6. Sorrisos
7. Teima quem quer
8 Maria que ninguém queria
9. Menina o que foi o baque
10. Cara limpa
11. Mulher toma juízo
12. Choro das mulatas

Vide link nos comentários.

Zé da Velha & Silvério Pontes - Tudo Dança (1999)



Não é à toa que Os Mulheres Negras se intitulam "a terceira menor big band do mundo": há mais de vinte anos atrás, surgiu a primeira, formada pelo trombonista Zé da Velha e o trompetista Silvério Pontes. O apelido de José Alberto Rodrigues Matos, o Zé da Velha, foi cunhado também pelo amigo Pixinguinha, em referência à turma da Velha Guarda com quem o trombonista fez amizade depois abandonar Sergipe para morar no Rio de Janeiro. Foi por lá, aos quinze anos, que começou a tocar trombone, instrumento que o tornaria um dos grandes nomes da gafieira e do choro. Já seu parceiro Silvério Pontes, mais de duas décadas depois, começou a tocar trompete aos oito anos, e tomou um caminho semelhante ao companheiro, pois quando se mudou ainda jovem da Laje do Muriaé para Niterói, emprestou seus sopros para os bares fluminenses. Assim, ambos têm sua formação musical bastante ligada às rodas de choro e de samba, e o repertório desse disco inclui Ary Barroso, Jacob do Bandolim (com quem Zé da Velha já tocou), Baden Powell, entre outros que influenciaram os músicos.
Esse é o segundo álbum da dupla - o primeiro, Só Gafieira, foi lançado apenas em 1995 - e desde a primeira faixa deixa claro a que veio: mostrar o melhor do choro brasileiro. A música em questão é Bole-Bole, do já mencionado Jacob do Bandolim, que começa com um breve solo de pandeiro até o tema principal ganhar espaço primeiro com o trompete, depois o trombone. Os músicos revezam de maneira engenhosa e bem feita, conversando perfeitamente, edessa forma tornam o disco animado do início ao fim, interpretando composições há muito consagradas como Se Você Jurar (de Ismael Silva), Vou Deitar e Rolar (Baden Powell) e Rosa, de Pixinguinha, que encerra Tudo Dança com num ritmo menos acelerado do que as outras faixas.
Zé da Velha e Silvério Pontes são instrumentistas que valem a pena ouvir, e ainda se apresentam por aí, para quem frequentar a boemia carioca. Mas caso não seja possível, vide link nos comentários.

Faixas:
1. Bole-Bole
2. O Bom Filho à Casa Torna
3. Vê Se Gostas
4. Despedida da Mangueira
5. Paciente
6. Revendo o Passado
7. Doce Melodia
8. Tudo Dança
9. Sonhando
10. Pra Machucar Meu Coração
11. Se Você Jurar
12. Vou Deitar E Rolar
13. Rosa

domingo, 10 de janeiro de 2010

Nazz - Nazz Nazz (1969)

Vocal e teclado, guitarra, baixo e bateria, respectivamente, Stewkey, Rundgren, Van Osten e Thom Mooney. O nazz teve seu primeiro show em 1967, abrindo para o The Doors, e o primeiro álbum no mesmo ano, que continha o hit numero 71 nas paradas, “Hello It’s Me”.
Muito de sua música presta homenagens ao rock britânico. O nome Nazz foi tirado de uma canção pouco conhecida dos Yardbirds, “The Nazz are Blue”. O riff de um dos seus primeiros singles, o “Open my Eyes”, foi tirado do primeiro single do The Who, “I Can’t Explain”, e as musicas “Gonna Cry Today” e “Hang On Paul” deixam clara a admiração da banda pelos Beatles.
Esse disco aqui presente, o Nazz Nazz, é o final de uma banda que aparentava ser promissora, contudo, durou apenas dois anos. O disco se chamaria a princípio “Fungo Bat” e seria duplo. Infelizmente, complicações surgiram quando o vocalista e o baterista vetaram algumas músicas inspiradas em Laura Nyro, cantadas pelo baixista, com o pretexto de seu gênero estar longe do garage rock psicodélico adotado pela banda. Sendo assim, as músicas foram excluídas e o baixista e o guitarrista deixaram o Nazz. O final dessa história vocês já sabem. O disco foi lançado com o nome de Nazz Nazz em 1969 e a banda foi pro brejo.
Apesar de todos esses contratempos, sem sombra de dúvida, o segundo álbum é o melhor, em todos os quesitos. Pra começar, as três primeiras músicas representam o pop do disco. Depois vem a “Gonna Cry Today”, delicada e muito bonita. A faixa número cinco, “Meridian Leeward” começa com a frase “'I'm a human being now but I used to be a pig” e o resto da letra é tão genial quanto esse começo. A última faixa é “A Beautiful Song”, que fecha o disco com classe. É um épico de onze minutos que viaja por vários estilos e consegue reunir todas as influências do Nazz.
Enfim, a breve existência da banda não diminui sua importância. Ela representa com eficácia os anos 70 e deixou um precioso legado. Ao mesmo tempo em que o Nazz buscou inspirações, ele foi inspiração para milhares de novas bandas.

1. Forget All About It
2. Not Wrong Long
3. Rain Rider
4. Gonna Cry Today
5. Meridian Leeward
6. Under The Ice
7. Hang On Paul
8. Kiddie Boy
9. Featherbedding Lover
10. Letters Don't Count
11. A Beautiful Song

Link nos comentários.

Moreira da Silva - O Último Malandro (1958)

Foi no ano de 1936, durante um show em um cinema carioca. O então desconhecido sambista Moreira da Silva cantava "Jogo Proibido", de Tancredo Silva, quando decidiu interromper e improvisar umas falas em cima da letra original. Resultado: foi aplaudido de pé. Esperto, percebeu que tinha 'encontrado petróleo' na sua brincadeira: criara ali um gênero inovador, o Samba de Breque.
Nos anos seguintes, Moreira se consagraria como o mestre do novo estilo, que ficaria para sempre associado ao personagem que encarnou: o malandro carioca de terno branco e chapéu panamá. De 1938 a até meados dos anos 50, o sambista gravou algumas das canções mais importantes de sua carreira. As principais foram reunidas neste álbum,"O Último Malandro", de 1958.
Entre batucada e sopros, o disco é dominado pelo voz de Moreira, que canta como se estivesse conversando com um amigo. As letras são espetaculares, caminhando pelos temas típicos da malandragem, como carteado ("Jogando Com o Capeta"), jogo do bicho (a brilhante "Acertei no Milhar"), corridas de cavalo ("Que Barbada") e até complicações com a polícia e na justiça ("Olha O Padilha" e "Vara Criminal"). Mais encrencas são temas de sambas como "Chang-Lang", sobre uma briga num restaurante chinês e a sensacional "Na Subida do Morro", divertida e riquíssima em detalhes. "Amigo Urso" é outra faixa fantástica, em que Moreira viaja até o Polo Norte para cobrar uma dívida não paga.
"O Último Malandro" é a obra-prima de Moreira da Silva. O sambista estava no auge de sua carreira, cheio de brilho e animação. Animação que não perderia até o fim da vida: na velhice, fez parceirias com outros grandes nomes da MPB, como Chico Buarque em "Homagem ao Malandro" (1977), Bezerra e Dicró em "Os 3 Malandros In Concert" (1995) e Jards Macalé, quem Moreira considerava 'seu único aluno'. Apresentou-se em shows até o ano 2000, quando, aos 98 anos, morreu o último malandro carioca.

Faixas:
1. Que Barbada
2. Amigo Urso
3. Vara Criminal
4. Olha o Padilha
5. Dormi no Molhado
6. Dona História Com Licença
7. Jogando Com o Capeta
8. Acertei no Milhar
9. Na Subida do Morro
10. Averiguações
11. Esta Noite Tive Um Sonho
12. Chang-Lang

Baixe o disco pelo link nos comentários (link in comments).

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Donovan - Sunshine Superman (1966)

Para o horror do artista aqui homenageado, devo dizer que é quase impossível discorrer sobre seu trabalho sem citar Bob Dylan. Afinal, todo bom fan do Bob já viu o filme “No Direction Home” e sabe quem é Donovan – que no filme foi colocado no papel de um quase vilão.
Donovan Philips Leitch nasceu em Glasgow, Escócia. Foi considerado a resposta do Reino Unido a Dylan, foi acusado diversas vezes de imitá-lo e foi até vaiado furiosamente em um show do americano, depois de ser mencionado em sua música “Talking World War Three”. Em 1965 Joan Baez finalmente introduziu a Dylan seu suposto inimigo e, aparentemente, os dois se deram bem.
Embora tenham estilos semelhantes, a musica dos dois tem caracteristicas distintas. Enquanto a musica de Bob Dylan viaja por entre os becos sujos da América falando de crueldade e realidade, Donovan incorporou folk, psicodelismo e jazz, tendo quase 30 discos gravados. Foi um dos primeiros músicos britânicos a adotar a imagem “Flower Power” e suas letras eram otimistas e refletiam a ideologia hippie. Ele tambem se tornou amigo proximo de John Lennon e Brian Jones, sendo um dos raros a contribuir com as musicas dos Beatles.
O disco Sunshine Superman, de 1966, conta com lindos arranjos de citara e violino, com letras que exalam psicodelia, falam de sonhos e viagens (leia-se LSD), como em “The Trip” e “Sunshine Superman”. Todas as faixas são deleitáveis, mas dou destaque principalmente para “Three King Fishers”, que é misteriosamente bela e possui lindos trechos de citara e para “Season of the Witch”, com um belo vocal e as guitarras elétricas de Eric Ford e de ninguem menos que Jimmy page!

1.Sunshine Superman
2.Legend of a Girl Child Linda
3.Three King Fishers
4.Ferris Wheel
5.Bert's Blues
6.Season of the Witch
7.The Trip
8.Guinevere
9.The Fat Angel
10.Celeste


(Le link dans les commentaries)

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Mojo Presents: I Can See For Miles - Lost Tracks From America's Psychedelic Underground (1966-1970, Lançado em 2009)

Calma, meus amigos. Não é o que vocês estão pensando. Isso aqui não é um disco dos 13th Floor Elevators. Quer dizer, é, mas não é. É uma das melhores coletâneas alternativas ao famoso Nuggets lançada recentemente. Achei esse disco por acaso num sebo aqui do lado da minha casa. O dono do local, gente finíssima, me disse que esse disco tinha acabado de chegar dos EUA. Não hesitei e levei.
Brinde da edição de abril da revista americana Mojo, o disco é sensacional. Os camaradas lá fizeram um belíssimo trabalho em recuperar pérolas psicodélicas obscuras da década de 60 e reunir num só album. Dentre as bandas aqui já postadas, temos os Elevators, o Chocolate Watchband e o Music Machine. São faixas já bastante conhecidas pelo público saqueador, então nem vale a pena perder tempo divagando sobre elas.
As outras, por outro lado, são deliciosamente psicodélicas e interessantes. "Starvation", da banda Golden Dawn (que, por sinal, era constituída por amigos de universidade dos membros do Elevators) é a melhor do grupo. Os riffs repetitivos se transformam aos poucos numa viagem lisérgica saborosa e bem-aproveitavel. "Question Of Temperature", do Ballon Farm, está presente na coletânea Nuggets. Possui linhas de guitarra densas e pesadas, mas chega a ser agradável para um bom garage-punker.
Gostaria de dar destaque especial também ao The Free Spirits, com sua faixa "I'm Gonna Be Free", melodia transcedental banhada por magníficos e belos sopros e, é claro, para nosso camarada Terry Manning, com sua Presleyzística "Guess Things Happen That Way". Não podia ficar de fora desta modesta resenha também "Hurricane Fighter Plane", do grupo The Red Crayola. Eu mesmo não conhecia os caras. Posso dizer que é uma música empolgante e inusitada! Os sujeitos mandam bem!
Enfim, é um grande som, facil de digerir e perfeito para uma introdução no proto-punk psicodélico sessentista. Vale a pena ouvir, principalmente se houver curiosidade em relação ao tema. Coletânea indicadísisma.
Aliás, torno este meu presente de aniversário para o Saqueando! Hoje é dia festivo! Parabéns para o blog, para os escritores e para os Saqueadores de plantão! Um ano de sonzeiras quase diárias!
Não pude conter a emoção, hehe. Sem mais, um viva!

Faixas:
1. First Crew to the Moon - The Sun Lights Up the Shadows of Your Mind
2. The Mystery Trend - Johnny Was a Good Boy
3. Terry Manning - Guess Things Happen that Way
4. 13th Floor Elevators - (I've Got) Levitation
5. The Red Crayola - Hurricane Fighter Plane
6. Bubble Puppy - Days of Our Time
7. The Balloon Farm - A Question of Temperature
8. The Music Machine - The People in Me
9. The Chocolate Watch Band - Are You Gonna Be There (At The Love in)
10. The Ashes - Let's Take Our Love
11. The Lost and Found - Don't Fall Down
12. The Free Spirits - I'm Gonna Be Free
13. Golden Dawn - Starvation
14. Endle St. Cloud - Come Through
15. 13th Floor Elevators - You Don't Know (Live at the Avalon Ballroom, SF)

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Kaleidoscope - Tangerine Dream (1967)


Parabéns, Saqueando! Um ano! E de presente de aniversário, um disco de 1967, o ano da psicodelia. Os responsáveis são Peter Daltrey (vocal e teclado), Eddy Palmer (guitarra e vocal), Steve Clark (baixo) e Dan Brindgman (bateria). Kaleidoscope foi formada na Inglaterra, em 65. O primeiro lançamento da banda foi um single com as faixas “A Dream For Julie”, Bordeaux Rose” e “Jenny Artichoke”. No mesmo ano, lançaram o disco “Tangerine Dream” e em 69 o “Faintly Blowing”, logo antes de mudarem de nome para Fairfield Parlour, por causa de uma banda homônima existente na América.
Sendo kaleidoscope ou não, continuou seguindo a mesma linha. Talvez uma das mais ecléticas bandas dessa era, psicodélica de raiz e com um rock progressivo em fase embrionária, ela se aproxima muito de Sagittarius, Love, Jefferson Airplane, Beatles e até lembra Pink Floyd (principalmente a musica “See Emily Play”).
Sobre o Álbum Tangerine Dream não há muito mais a se dizer, a não ser que ele foi relançado em 2005 e três faixas bônus foram adicionadas. Lindo do começo ao fim.

1. Kaleidoscope
2. Please Excuse My Face
3. Dive Into Yesterday
4. Mr.Small the Watch Repairer Man
5. Flight From Ashiya
6. The Murder of Lewis Tollani
7. In the Room Of Percussion
8. Dear Nellie Goodrich
9. Holiday Maker
10. A Lesson Perhaps
11. The Sky Children
12. A Dream For Julie (faixa bonus)
13. Jenny Artichoke (faixa bonus)
14. Just How Much You Are (faixa bonus)

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terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Sá e Guarabyra - Quatro (1979)



Anunciando alto e claro que ser caipira e sertanejo não é pra qualquer peão, tem que ter poeira vermelha no coração: Os compositores e cantores Luís Carlos Pereira de Sá, Guttemberg Nery Guarabyra Filho e Zé Rodrix (juntamente com João Carlos de Lima e J.C. Grein Xavier) foram os precursores do movimento pioneiro conhecido como Rock Rural. Esse movimento pode ser definido como a urbanização do universo caipira no formato de música popular, ou então como uma mistura do folk-rock, da musica regional e das influências do movimento hippie.
Depois de dois anos com dois álbuns gravados – Passado, Presente & futuro e Terra – os três se separaram e foram seguir carreira solo. Pouco tempo depois, Sá e Guarabyra se reencontraram e fizeram uma sábia decisão: voltariam a cantar juntos. Nesses anos de parceria que se seguiram conquistaram um grande público e banharam o Brasil com uma enxurrada de sucessos.
O album "Quatro", lançado pela Som Livre em 1979, conta com 11 faixas, com destaque para "Pássaro" (que é a canção "Um cantador", vetada pela censura durante o regime militar, com um novo título) e "Alucinante Alice":

1. Sete Marias
2. Wonder Woman
3. Peixe Voador
4. Polaca Mineira
5. Passaro
6. Flora Medicinal
7. Vem Queimando a Nave Louca
8. Alucinante Alice
9. Chão de Poeira-cigarro de palha
10. Chuva no campo
11. Baquiá


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Roberto Carlos - Jovem Guarda (1965)

Roberto Carlos já era um artista conhecido em 1965, quando, em abril, lançou seu quarto LP, o clássico "Roberto Carlos Canta Para a Juventude". Porém, o auge do seu sucesso só chegou em agosto, ao ser chamado pela Rede Record para liderar a Jovem Guarda, um programa de TV destinado ao público jovem que, além de lançar uma série de bandas de rock, pautou o estilo do rock brasileiro até o final dos anos 60. A partir daí, a carreira de Roberto mudou para sempre. O artista deixou de ser um cantor qualquer para entrar na história como O Rei, um dos títulos mais respeitados em todo o território nacional (quem mais é Rei? Só o Pelé!).
Assim, em novembro, o cantor Roberto Carlos, agora também Rei Roberto Carlos, lançou seu quinto álbum, "Jovem Guarda". Impulsionado pelo sucesso da primeira faixa, a emocionante "Quero Que Vá Tudo Pro Inferno", o disco estourou. No maior clima roquenrou, com direito à até um órgão elétrico no fundo, o LP tem canções que são 'uma brasa, mora?', como "Pega Ladrão", "Não é Papo Pra Mim", ou a hilária "O Feio". Mas a melhor é, com certeza, "Lobo Mau", versão de "The Wanderer", na qual a letra deixa a atitude transviada d'O Rei bem explícita: "Sou do tipo que não gosta de casamento/E tudo que eu faço, falo é fingimento/Se pego o meu carro e começo a rodar/Tenho mil garotas uma em cada lugar".
Então, aqui está "Jovem Guarda", o disco que inaugurou o Reinado de Roberto Carlos, o Rei que enlouquecia os brotos com a sua beleza de galã, e deixava os rapazes com inveja de sua fama de mau. Um clássico do rock nacional.

Faixas:
  1. Quero Que Vá Tudo Pro Inferno
  2. Lobo Mau (The Wanderer)
  3. Coimbra
  4. Sorrindo Para Mim
  5. O Feio
  6. O Velho Homem Do Mar
  7. Eu Te Adoro Meu Amor
  8. Pega Ladrão
  9. Gosto Do Jeitinho Dela
  10. Escreva Uma Carta Meu Amor
  11. Não É Papo Pra Mim
  12. Mexerico Da Candinha
O link está nos comentários (ou "link in comments", pra você que não entende português!).

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

The Zodiac - Cosmic Sounds (1967)


Em 1967, ano da psicodelia, pleno verão do amor
Viagens coloridas
Fantásticas
Miragens nas viagens
Personagens
De um mundo reluzente
Luz da mente
Revolução Psicodélica
Era de Aquarius aqui na terra
O album conceitual trata dos signos do zodiaco. Cyrus Faryar, um hippie maluco, balbucia palavras aleatórias de horóscopo barato em meio à rajadas sonoras lisérgicas, exoticas e distorcidas produzidas por cítaras, sinos, o teclado de Mike Melvoin, pelo baixo de Carol Kaye, bateria de Hal Blaine, flauta baixo de Bud Shank e uma eletrizante percursão de Emil Richards.
Os autores advertem: esse disco deve ser ouvido de luz apagada, e boa viagem.


1. Aries - The Fire-Fighter – 3:17
2. Taurus - The Voluptuary – 3:38
3. Gemini - The Cool Eye – 2:50
4. Cancer - The Moon Child – 3:27
5. Leo - The Lord Of Lights – 2:30
6. Virgo - The Perpetual Perfectionist – 3:05
7. Libra - The Flower Child – 3:28
8. Scorpio - The Passionate Hero – 2:51
9. Sagittarius - The Versatile Daredevil – 2:06
10. Capricorn - The Uncapricious Climber – 3:30
11. Aquarius - The Lover Of Life – 3:45
12. Pisces - The Peace Piper – 3:19

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