Diz Moacyr Luz que, certo dia, ele e Jards Macalé esperavam por uma ponte aérea numa tarde chuvosa e entediante no Rio de Janeiro. Não havia muito o que fazer naquele monótono aeroporto, então Moacyr pediu a Jards, que usava um panamá que havia pertencido ao próprio Moreira da Silva, cantasse um samba de breque na sala de espera. Macalé se animou e, num salto, entoou "Rei do Gatilho", hit inconfundível do grande mestre. No exato momento em que o saguão do aeroporto ouve o clássico "CUIDADO, MOREIRA!!", um pensamento cruza a mente dos dois músicos como uma flecha. Se Kid Morengueira havia morrido no ano passado, por que não lhe gravar uma homenagem?
Jards Macalé Canta Moreira da Silva foi lançado no ano de 2001 e é mais que uma homenagem póstuma a um grande amigo. Trata-se de uma releitura cuidadosa e cheia de qualidade dos mais finos momentos da obra do mestre do samba, que, portanto, deve ser tratado com seriedade, mesmo sendo um homem dos mais simpáticos. O álbum abre com Macalé espancando seu violão numa escrachada versão da hilária "Acertei no Milhar", onde Etelvina não chama mais a Morengueira, e sim a Macalinhas. Em seguida, uma versão de encher os olhos d'água de "Piston de Gafieira" traz para o ambiente toda a descontração, requinte e elegância de um sambão da década de trinta.
Macalé fez-nos o favor de juntar as duas partes de "Amigo Urso" numa só, tanto a cobrança desesperada quanto a resposta desdenhosa. O ouvinte logo percebe que de nada adianta ir ao Pólo Norte para reclamar pelos seus bens financeiros quando o seu amigo é um pilantra. "Margarida" é uma música bem-humorada sobre um relacionamento encerrado e suas consequências para o desesperado amante. A seguir, uma ligeira surpresa: Zeca Baleiro aparece cantando junto de Macalé em "Na Subida do Morro", com direito ao hilariante assassinato em câmera lenta. Os problemas com a polícia eram muito recorrentes na época da malandragem, e "Olha o Padilha" mostra muito bem isso. "Rei do Gatilho" e "O Último dos Moicanos" são as duas mais consagradadas "produções cinematográficas" de Kid Morengueira, interpretadas com maestria pelo músico freak carioca, fato que, como já explicitado anteriormente, deu origem ao álbum.
"Choro Esdrúxulo" é uma música que se define pelo título. Rimas bizarras, pouco sentido e um fagote porreta fazem desta uma faixa interessante e agradável. "Samba Aristocrático", por sua vez, é uma tentativa do mestre do breque de atingir o olimpo da música, agradando à gringaiada com "prosódia, ortografia e etimologia nas suas radicais". "Moreira Na Ópera" é uma provocação do Kid aos Três Tenores, interpretada com graça por Macalévsky, que faz questão em enfatizar seu potencial de "dar baixo onde estiver agudo".
Por último neste texto mas não no disco, "Tira os Óculos e Recolhe o Homem", parceria entre Macalé e Morengueira. A música narra uma ocasião onde Jards fora preso pelo governo militar por cantar duas músicas além do previsto num festival no nordeste. Por sorte, o bom e velho Moreira estava no lugar certo na hora certa e tirou seu colega da enrascada, selando uma amizade duradoura e respeitosa.
É uma homenagem muito bem prestada, deliciosa de se ouvir e boa para descontrair.
Afinal, morre o mestre mas o breque continua! Macalé acertou no milhar!
Faixas:
1. Acertei no Milhar
2. Piston de Gafieira
3. Amigo Urso/A Resposta do Amigo Urso
4. Margarida
5. Na Subida do Morro
6. Olha O Padilha
7. O Rei do Gatilho
8. Choro Esdrúxulo
9. Samba Aristocrático
10. O Último dos Moicanos
11. Tira os Óculos e Recolhe o Homem
12. Moreira na Ópera
Link nos comentários, vargulinos!
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
Jards Macalé - Jards Macalé Canta Moreira da Silva (2001)
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4 comentários:
Esse eu fiz questão de upar no mediafire.
http://www.mediafire.com/?uegzq3zmvdz
Grande Macalé! Esse disco é uma pérola!
xi... mataram o link
Galera segue endereço de um blog que tem todos os links ativados http://euovo.blogspot.com.br/
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